Ao sair do cinema, não conseguia dormir, Batman (aqui a crítica: The Batman – A Barbárie de Gotham – Metáfora do Mundo.), um filme perturbador, mesmo com Robert Parttinson como Batman, o filme é grandioso, com todos os elementos do CAOS em que vivemos.
O desprezo pelo Estado Democrático de Direito, o Estado de Exceção, a pós-democracia e a pós-verdade diretamente das redes sociais, estas dominadas pela demagogia da extrema-direita e seu sentido escatológico do julgamento religioso do juízo final.
A narrativa das redes sociais, dos neofascistas foi trazida ao mundo de Gotham, a comunicação do Charada e sua convocação de “luta” contra o sistema “corrupto”, que a morte de figuras públicas e depois de todas a população, que levará à purificação.
A crítica direta ao sistema eleitoral, da Política, a luta é direta, armada, não tendo saída política, nem disputa das eleições, ou participando das instituições, ao contrário, tudo é podre, as graves falhas do sistema não permite sua manutenção, sua existência.
Batman, recém aparecido em Gotham, é visto como uma aberração (pelo crime, pela polícia e pelos políticos), por não ser do sistema há uma possibilidade de diálogo, uma ação conjunta contra a corrupção, pois quem põe em xeque a polis e seus fundamentos, bem e mal, polícia e bandidos, é uma nova força radical, destrutiva e que não aceita qualquer mediação.
Batman se impõe pelo medo, por ser uma aberração, o que serve de lição para a principal e nova narrativa de ruptura atual, o Medo.
Gotham (quem sabe São Paulo?) tem que purgar seus pecados, nada na cidade pode ser salva, nada, nem o Estado, nem o poder paralelo, nem mesmo as fundações paraestatais, como a Fundação Wayne (poderia ser a Fundação Soros, Rockfeller, Ford) tem credibilidade, pois cruza a linha do bem contra o mal, o que não permite perdão, apenas a limpeza total, a solução final, do juízo final, salvará Gotham.
É questão é quase fruto de uma providência divina, ou ausência de Deus, pois o julgamento moral levará a ruptura com qualquer lógica social, uma narrativa moralista e religiosa, a busca de uma pureza que só seria alcançada com o fim da Cidade, da Humanidade, do PECADOR (A).
Essa ação divinal é dirigida por uma horda selvagem, violenta, fora do sistema, que se alimenta do ódio social, o que gerou movimentos radicais do passado, agora nem mesmo cabe a utopia de um Estado higiênico, não é possível, apenas a catarse da morte é a solução.
É esse o diálogo das redes sociais, dominadas por uma narrativa própria e propícia aos delírios, de uber-poder, que parte da ideia de que o homem é corrupto (pecado original), que é necessário uma limpeza da espécie, destruir as estruturas de Poder, com eliminação física, inclusive.
Por que esses discursos de ódios, tendo como pano de fundo teórico o combate ao mal (Corrupção), é tão fácil de ser disseminado? As fakenews, as formulações binárias, nenhuma sofisticação teórica, apenas frases feitas, uma crendice tosca em toda sorte de conceitos sem base científica ou filosófica, não estranho que um “astrólogo”, vira Guru e é visto como intelectual, a pobreza intelectual é regra geral.
O mundo real está tão complexo que deve ser difícil fazer ficção, pois se vive uma narrativa errática.