Arnobio Rocha Política Por que a Aliança Lula-Alckmin se impõe?

2020: Por que a Aliança Lula-Alckmin se impõe?


Lula e Alckmin, uma aliança impensável, exceto por um conjuntura tão complexa.

Três meses após as tornadas públicas as conversas de bastidores entre o ex-Presidente Lula e o ex-Governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, sobre a surpreendente possível aliança eleitoral entre eles, parece mais certa a chapa. A filiação de Alckmin ao PSB caminha para a concretização da aliança.

Algo impensável pelas trajetórias das duas personalidades, Lula e Alckmin, em  campos políticos antagônicos, os embates políticos de mais de 20 anos, inclusive foram adversários nas eleições presidenciais de 2006, com a vitória de Lula, para seu segundo mandato.

Geraldo Alckmin foi governador de São Paulo de 2000-2006, após a morte de Mário Covas, ele se reelegeu numa dura disputa no segundo turno com José Genoíno, do PT. Depois da tentativa de eleição presidencial, Alckmin voltou ao governo de São Paulo em 2010 e só saiu em 2018, para nova disputa presidencial, em que obteve menos de 5% dos votos, sendo traído pelo PSDB, que já no primeiro turno, o candidato ao governo de São Paulo, João Dória Jr, apoiava Bolsonaro, que depois viria a ser a dupla, Bolso-Dória, em vários estados, a mesma dinâmica tinha acontecido.

O clima interno do PSDB desandou e numa famosa reunião de sua direção nacional, Alckmin e Dória, discutiram de forma ríspida, acusação de traição, ali ficou claro de não haveria mais clima para que ambos ficassem no mesmo espaço de partido. Mesmo que Alckmin não tivesse saído oficialmente do PSDB, ele já estava, na prática, fora do partido. Dória Jr se tornou um dos donos do PSDB em disputa com o também bolsonarista, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, inclusive, culminando com a disputa de prévias entre eles, com vitória de Dória.

A ruptura de Geraldo Alckmin com o PSDB, um político conversador, mesmo com proximidade com a família de Mário Covas, ele era alinhado com a centro-direita do PSDB, com vínculos inclusive, com a Opus Dei, fez governos linha-dura, tanto na segurança, como a questão social, enfrentamento com os professores, metroviários, manteve rédea curta a ALESP com controle absoluto, sem espaço para oposição.

Ao mesmo tempo é visto como gestor competente, que dialoga com o grande capital, na economia ele vai da defesa do desenvolvimento e mesclando com políticas neoliberais, talvez pressionado porque geriu por tantos anos o mais rico estado do país. Ele manteve relações institucionais com os governos petistas, sendo oposição, sem ruptura, entretanto, apoiou fortemente o impeachment de Dilma.

Qual a razão de uma aliança desse tipo? Essa é a pergunta que fica batendo na cabeça de toda a esquerda e no campo democrático.

Uma aliança desse tipo só se justificaria pela situação gravíssima de ruptura institucional, degradação social e a rapinagem política do Brasil, essa situação iniciada com o Golpe (com apoio de Alckmin) e aprofundada de forma impensável com a eleição de Bolsonaro, fruto dos ventos ultraliberais no mundo, difundido pela extrema-direita, desde a crise de 2008, como saída da crise, uma ruptura radical com a Democracia e a Política.

A recomposição da Esquerda, passa necessariamente pela retomada do ambiente democrático, em que a ação política, da crítica e autocrítica, é a essência da existência da própria esquerda, e a política é o espaço ideal de disputa ideológica e de projetos de mundo.

É impossível, nesse sentido, desprezar o grau de degradação do aparelho estatal, desde 2016, a expressão maior dessa ruptura com as políticas públicas, é a volta da fome, miséria, precarização/uberização do mundo do trabalho, o que se reflete imediatamente, em salários, empregos e renda, em queda vertiginosa, independente da Pandemia, a situação estava dada e se aprofundou, o governo bolsonatista de Paulo Guedes, se aproveitou para quebrar ainda mais o Estado.

Na política, depois de dois congressos dominados pelo extremo conservadorismo, com destaque maior para a força da bancada evangélica, produto dos ventos da extrema-direita, reduziu fortemente o espaço democrático e político, pois a pauta conservadora passava exatamente pela criminalização da Política, no início, para o PT, depois para as forças democráticas, acuadas pelo rolo compressor dos golpistas, depois pelos bolsonaristas.

É por esse estado de coisas, com um processo de recomposição de forças de esquerda e democráticas, ainda sob alto risco de ruptura institucional, causado pelas ameaças bolsonaristas, pelo lavajatismo e pelas forças políticas de extrema-direita com um Estado saqueado e destruído, que a aliança Lula-Alckmin parece fazer sentido, um embrião de um governo de unidade nacional, de reconstrução do Estado, com programa mínimo e pautas que possam avançar um diálogo nacional, para permitir governabilidade e garantias democráticas, com estabilidade e acordos.

Parte de uma análise de que a esquerda tem Lula como grande capital político, mas sozinho, não governará, com todos os desmandos dos últimos 6 anos, as tarefas mínimas, serão gigantes, a necessidade de mudanças constitucionais e legais serão constantes e sem uma ampla base de apoio congressual e na sociedade, dificilmente se derrotará o bolsonarismo.

A conjuntura é essa, a correlação de forças é dada, é uma dose de pragmatismo e de entendimento da realidade concreta, ainda muito dura, com possibilidade de vitória de Lula.

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