Aqui, na série sobre a Crise 2.0, você acompanha os desdobramentos da Economia Mundial de forma simples, com uma visão crítica do que a grande mídia estrangeira publica, além de análise do que a mídia local eventualmente fala. Ademais, procuramos escrever algumas conclusões e ponderações próprias sobre o processo da Crise Global, algunas destes artigos, de mais de fôlego, estão espalhados nestes quase 300 posts do pequeno blog, alguns com um grau de ineditismo no meio da blogsfera como a questão do novo Estado que surge da Crise 2.0. Aqui tratamos da Economia Política com um corte marxista, que continua sendo um duro esforço individual, reflexo destes tempos de pouca teoria.
Dando continuidade aos dois artigos anteriores sobre as perspectivas globais dos próximos anos ( Crise 2.0: Cenário da Economia Mundial de 2013 e 2014 e Crise 2.0: Cenário Global – Que Mundo Este? ) em que procuramos localizar a crise historicamente e seus componentes conjunturais, fechando uma ideia geral de como o Capital se articula em busca de uma saída que mais lhe convier. Os ritmos são claramente distintos nas economias centrais, o processo dos EUA se esgotou com o fim do Estado Neoliberal, enquanto que na Europa, nem toda experiência deste Estado foi devidamente explorada, podendo, inclusive, nem ser, pois a crise varrerá esta alternativa(ou não).
O EUA patinam numa dinâmica econômica distinta do resto do mundo, o auge da superprodução do Capital, por volta de 2005, reduziu drasticamente o desemprego e a miséria, apesar de grande, se concentrava nos guetos pobres formados por negros ou latinos, mas com bolsões de riquezas destes dois grupos. Os números indicavam desemprego de 4.9%( cerca de 6,8 milhões de trabalhadores da PEA), enquanto os beneficiários dos Food Stamps(um espécie de Bolsa Família) era de 28 milhões de pessoas. Foi o auge de uma época, vencidos os “inimigos” do leste, mas já sob pressão dos “novos inimigos”, afinal império não sobrevive sem guerra, sem flexionar seus músculos.
Passados 7 anos, entrando no oitavo ano da grande crise, os números chegaram no seu auge, em 2011 aos 9,2% de desemprego(14,8 milhões de trabalhadores), com 45 milhões de pessoas usando os Food Stamps, a renda média dos trabalhadores tinha caído 40%. Os planos que torraram 5 trilhões de dólares, apenas entre 2007 e 2009, ou cerca de 1/3 do PIB dos EUA foram quase que integralmente destinado aos bancos e sua grandes empresas. Sem que a economia reagisse de forma ampla, apenas no último trimestre de 2011 com o último acordo fiscal começou uma dinâmica de retomada, o que se confirmou em 2012.
Porém os números não retomam nem de longe os de 2005, já sendo aceito que o patamar mínimo de desemprego não será inferior aos 6.9%( 11 milhões de trabalhadores), o que se reflete no Food Stamps que pouco caiu, mesmo com a diminuição do desemprego, pois a massa salarial é infinitamente menor à anterior. A batalha do Obama II imediata foi evitar o “abismo fiscal”, mesmo com o acordo no Senado conseguido no último dia, foi apenas uma pequena solução de continuidade, a divisão, mesmo entre as frações do Capital, continuam acirradas, pois não há um “plano” comum, que aponte para um novo e longo ciclo do Capital.
A Europa entra no seu sexto ano de crise, com um novo choque, a Austeridade, ou o aprofundamento da solução “neoliberal”, porém já dando como certo o fracasso cabal deste tipo de saída. Entretanto, nos parece crucial, do ponto de vista do Capital, que as antigas glórias do Estado de Bem Estar Social sejam quebradas, a situação parece em muito com o que a América Latina viveu nos anos 80/90 e o leste europeu. O Capital precisa de “sangue novo”, das antigas estatais, dos cortes sociais, da concentração bancária e fiscal.
A “nova” etapa, decidida em outubro de 2011, a união fiscal, com a devida punição aos que não cumprirem as metas, uma imposição da Alemanha, que inclusive não as cumpre, mas tem o Poder de impor aos demais uma disciplina rígida, que em nada salvará o Euro. Passado 15 meses da decisão, Merkel, em plena campanha eleitoral, se deu conta de que já não é possível seguir no mesmo rumo, a crise piorou generalizadamente, praticamente sugou a Espanha, depois de já terem perdido, Portugal, Irlanda e Grécia. A realidade é que a Austeridade se mostrou ineficaz, principalmente num ambiente de retrocesso econômico.
As soluções para Europa parecem ainda mais distantes que a dos EUA. Os dois lados ( FED e BCE) atuaram conjuntamente nos imensos QE’s( Expansão da Base Monetária), no caso europeu serviu de recapitalização dos bancos, uma espécie de “pagamento” aos empréstimos não pagos pelas economias mais destruídas pela crise. Há um imenso estoque de títulos e moedas, sem que se empreste a ninguém pois a remuneração é baixíssima e sem garantia de que se pague, casos de Espanha e Itália. Provavelmente será usada nas privatizações que desmontarão os Estados, já quase sem soberania.
Sem EUA e UE, com o Japão afundando numa dívida pública que supera 240% do seu PIB, o mundo abriu “vaga” para novos atores, como os BRICS( Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que através do G20, desbancou o clube fechado do antigo G7, que explodiu com a Crise 2.0. Exceto a China, que mantém uma estrutura estatal controlada de forma central, os demais países do grupo já passaram por toda sorte de ajustes, com desmonte do Estado, várias quebras econômicas, mas que sobreviveram ao hecatombe da Crise atual.
De toda sorte, os BRICS enfrentam desafios próprios de grandes complexidades como infraestrutura, cadeia produtiva e principalmente crédito. As torneiras fechadas nos EUA e Europa pioraram o ambiente nos últimos dois anos, mesmo as soluções de financiamento mútuo, ou de cesta de moedas comuns que substitua o Euro e o Dólar nas transações comerciais entre estes parceiros, não foram plenamente postas em funcionamento. Os próximos dois anos com os números incertos dos EUA e o retrocesso da UE, sobrará ao mundo os BRICS como alternativa de crescimento e de modelo de combate à Crise.
Destarte, a crise tende a permanecer por mais tempo, não haverá trégua, mas nada indica que seja “Crise Terminal”, que o Capital vai cair de podre e outras falácias. Nestes momentos, em que o sistema entra em curto-circuito, vai se abrindo possibilidades históricas de seu total questionamento, de sua ruptura, mas não significa o fim por si, precisa da ação consciente para romper. Pelo que verificamos, não gestamos forças para este momento, nem para nos defender dos males terríveis das forças produtivas, que significa, em última análise, que os trabalhadores e o povo pagam a dolorosa conta da Crise.
Um mundo em transe, mas que precisar ser transformado radicalmente.
Preciso descobrir dados sobre o que sobrou do bem-estar social nos maiores países europeus. Suspeito que ainda muito, bem mais do que já conquistamos aqui. Lembro de que nos anos 80/90, quando cortes drásticos foram feitos nos direitos trabalhistas, a licença-maternidade da Suécia, por exemplo, caiu de 9 pra 6 meses. Os europeus tinham muita gordura pra perder.