Arnobio Rocha Estado Gotham City Rede de Ódio – A (ausência de) Ética no Mundo Digital

Rede de Ódio – A (ausência de) Ética no Mundo Digital


O que é o mundo virtual e suas redes (de ódio) sociais.

“Nobres, perdoai-me; mas preferiria ter de pensar de novo estas feridas a ouvir contar como cheguei a obtê-las” (Coriolano – William Shakespeare)

O excelente filme polonês, Rede de Ódio, do diretor Jan Komasa, em exibição no Netflix, explica muito bem o funcionamento das redes sociais, da construção dos perfis fakes aos “comentários” de portais, entre manipulações e outras práticas.

O filme de tão real parece um documentário, especialmente por ser ambientado em Varsóvia, Polônia, um país extremamente conservador.

Claro que não vou entrar em detalhes sobre a trama, apenas dizer que vale a pena ver e constatar que não há a menor chance de Privacidade e/ou intimidade, no mundo digital, principalmente depois do advento das redes sociais amplas

É preciso deixar claro que depois que se liga um celular, deveria ter o mesmo aviso de quem vai entrar no Infeenum:

“Deixai toda esperança, oh, vós que entrais” (Divina Comédia – O Inferno – Dante)

Esqueçam a liberdade e a vida privada, comum, um mundo estranho se abrirá sobre si.

O fácil acesso ao arsenal de tecnologias, apps, programas, vão te trazer para dentro de “casa” todo um padrão de comportamento e não tem mais retorno, nem mesmo com leis, marcos civis, ações, para lhe devolver seu status anterior, aliás, esse cipoal de normas funcionam como se alguém quisesse enxugar gelo na Antártida.

Há cerca de seis anos atrás, antes da explosão do whatsapp, escrevi um texto, o mais lido deste blog, O Paciente Trabalho para Plantar o Ódio nas Redes Sociais.

Parece  uma premonição do porvir, quase ao fim da primaveras e jornadas que contaminaram o mundo real com todas as loucuras virtuais. Ali, afirmei que:

não é obra do acaso ou da burrice, é um trabalho paciente, científico, organizado e bem executado, sob um comando centralizado que sabe o que quer. Digo-lhe mais, não tem nada a ver com “teoria da conspiração”, venho estudando e escrevendo sobre este “fenômeno” de comunicação, que no início muitos abraçaram como “revolução digital”, cyberativismo etc. Infelizmente não tem nada disto, o que me chamou atenção foi a primeiro a “revolta” do Egito, depois Turquia, Ucrânia, Brasil (junho/2013), Venezuela, de novo Turquia e de novo Ucrânia. Agora mais uma vez Venezuela, tudo muito parecido e igual a mesma forma de atuação e repetição. É só uma coincidência?”.

A tática usada por estes profissionais com uma especialidade clara são o que denomino de “comentaristas de Portais de Internet”, não importa sobre qual é a notícia, pode ser política, futebol, ciência, educação, os comentários são padronizados, aqui no Brasil atacando o PT, o Governo Dilma (antes o Lula). Tudo se parece ser a mesma tática, ação é a mesma em todos os lugares acima citados, querem dá aparência de desordem e caos, o que facilita a cooptação, dando impressão de que tudo e todos não prestam, cultivando a baixa estima e estimulando o ódio latente.

Naquele ano, o artigo é de abril de 2014, ainda não havia um domínio comum desse jogo mais profundo da internt, das fakenews, da manipulação, muitos rebatiam o texto, acusando-o de teoria da conspiração, ou de um petista que não aceitava o “novo”, que as jornadas abriram um novo horizonte político.

Passados esses seis anos, após a vitória de Trump, Bolsonaro, as revelações das manipulações feitas por Snowden, o escândalo da Cambidge Analitcs, a #Vazajato, alguns documentários, esse importante filme de 2020, vem a mesma pergunta que fiz em 2010, 2011, 2012, 2013, 2014….até hoje:

“Como se contrapor à maré do ódio?”

Venho da área de tecnologia, mais de 25 anos “enxugando bits e bytes”, não me deu autoridade, apenas uma percepção clara do monstro, não se trata de ser especialista, guru, nada disso, é para discussão de ideias de como agir, atuar.

Talvez se pense num protocolo de convivência digital, não uma lei que discipline o que não é disciplinável, nada de tentar regular a mentalidade, pois, esse mundo virtual/digital, tem uma lógica própria, que as nossas regras analógicas, não se aplicam a um mundo fluido e absolutamente desconhecido, em mutação diária.

Quem sabe uma bioética virtual/digital ou uma filosofia que possa capturar essa matrix, um esforço que passa por todos os campos do conhecimento, que não se reduz ao Direito, nem a ciência política, que se aproxima da ética humana, que se esvaiu com a perda da privacidade elementar.

As tarefas são gigantes, não nos percamos com promessas mirabolantes, tantas novidades novas que se pensou nos parlamentos, como se leis “reais” fossem ditar um mundo “não-real”.

Ao debate, ou não!!!

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