
“Sob a ameaça de sua própria degeneração, o proletariado não pode admitir a transformação de uma parte crescente dos operários em desempregados crônicos, em miseráveis vivendo das migalhas de uma sociedade em decomposição”. (Programa de Transição – Trotsky, 1938)
Desde pelo menos 2008, o Estado de Exceção passou a ser a Regra, pois o papel do Estado, o Novo Estado, que surge, emerge, dos escombros da Crise 2.0, a maior crise de superprodução de capital desde 1929, superior à crise do petróleo, que pariu o neoliberalismo. Agora, passada quase duas décadas, um tempo curto na história, aquilo que apontamos ainda em 2001, de que esse Estado “será de mais controle e violência, dominado pelo medo e a imposição da doutrina da “Segurança”, pacientemente cultivada por décadas, nos países europeus e nos EUA, assumiu o centro das preocupações da máquina burocrática. Do nosso lado, a questão é reduzida à corrupção, o medo é trabalhado em torno dela, assim como a exigência de força, acima das leis, para combatê-la”.
O que apontávamos ainda no começo da década passada, tem se cumprido fielmente, com mais radicalidade agora sob Trump again, mais forte, sabedor do seu papel e não foge de sua missão maior, garantir uma nova era do Capital, a que muitos escreviam como sendo pós-democracia, ultraliberalismo, a nosso ver, é um aprofundamento da luta de classes, do esmagamento dos trabalhadores (independente da forma ou regime de trabalho) por um punhado de trilionários da área de tecnologia (big techs) associados aos velhos senhores do capital financeiro especulativos que ditaram as regras nos últimos 45 anos, quando capturam o FED e depois o BCE.
O que há de mais radical nessa nova forma de dominação é a destruição das formas burguesas de controle mediados, ou seja, que era feito através da Política e da Democracia (burguesa), longe das ameaças do fantasma dos “comunismo” (representada pela antiga URSS), o Capital resolveu fazer uma nova partilha do mundo no anos de 1990, tendo como pressuposto o fim do Estado de Bem-Estar Social, a diminuição do Estado, uma nova ordem geopolítica, incorporação da China e de um mundo onde os EUA e a UE comandariam o destino da humanidade, o primeiro como império único, o segundo como barreira de controle ao leste europeu, controlando os ânimos e as resistências do fim das experiências “comunistas”.
Por quase 15 anos essa realidade parecia possível, no entanto, o Capital tem regras próprias, inclusive sua crises cíclicas, elas se manifestaram em crises regionais, como a dos Tigres Asiáticos, da Dívida Russa e depois da bolha de internet, até que veio a mãe de todas as crises, cujo sintomas aparecem em 2005 e explodem em 2008, atingindo o coração do império, nos EUA e depois a UE. O mundo foi sacudido pela crise e uma série de iniciativas contrarrestantes, como os BRICS surgiram, mas é dentro do núcleo do Capital que vem a maior resposta, a mais dura e radical, de ajuste, com uma embalagem “nova”, de indignação e por liberdades, tendo seu ponto alto, visível, as tais primaveras e jornadas, escondidas, a nova extrema-direita que vai ditar as novas regras..
O movimento da ultradireita foi se consolidando no mundo, teve um pequeno “atraso” com a Pandemia, que levou a derrota de Trump, no entanto ele se retoma com mais força em 2024 e mostra suas garras.
A forma última e mais bem acabada desse novo tempo é representada por Musk-Trump, a fusão definitiva dos novos donos do poder econômico e que respondem diretamente pelo poder político, quase sem mediação nenhuma, um exercício direto de força e poder autoritário e que se propõe a destruir qualquer resquício de crítica, valores humanos e de consciência social, é a Barbárie em seu estado de graça, como poucas vezes vista na história.
A fragilidade da Democracia e da Política se torna evidente, o modus operandi do velho Estado, impediria, em alguma medida, esta relação promíscua tão escancarada. As eleições, os ajustes e os partidos tão idênticos, ou que não se diferenciam, reforça a imagem da pouca eficiência da Democracia. Mesmo assim, com todas as deficiências e graves problemas da Democracia, sua existência é vital para os trabalhadores e ao povo em geral, pois a Democracia (Política) é um Fardo pesado demais para o Novo Estado, cria embaraço e impede seu avanço avassalador, vive-se uma época de Contrarrevolução Permanente, que põe em risco a própria existência humana.
A discussão que fica é: Qual o programa (de transição, ou não) para resistir e apontar para o futuro que não seja apenas sobreviver?