Arnobio Rocha Filmes&Músicas Os Banshees de Inisherin

2263: Os Banshees de Inisherin


A alma humana em discussão, porque somos o que somos, independente da época e local.

Ao largo da guerra civil irlandesa (1923), numa pequena ilha, o minúsculo povoado de Inisherin tem seu próprios conflitos e desavenças, acentuados pela brusca ruptura entre Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson), por conta deste que resolve, sem nenhuma explicação lógica, romper uma longa amizade com o simplório Pádraic.

É esse o cenário do magnífico Os Banshees de Inisherin, disponível no canal Star+.

A luta desesperada de Pádraic para reatar a amizade, mais ainda, para entender a razão, se é que há, de alguém ser amigos por décadas, de repente acordar e não querer mais ser seu amigo, sem que nada tivesse acontecido, numa pequena vila em que todos sabem da vida dos outros, é trágico.

O filme é sombrio, mesmo com o visual arrebatador das imagens, da beleza natural da ilha, o mar, as luzes e as cores que impressionam a cada tomada da câmera, extremamente hábil do diretor Martin McDonagh, que tinha dirigido o cortante “Três anúncios para um crime”, e que voltar a contar uma densa história, com elementos simples, de personagens tão complexos.

A guerra no continente divide irmãos irlandeses, uma disputa religiosa (ou não) de séculos, católicos e protestantes, à sombra de um império decadente, o britânico, que trama a divisão, para conquistar um naco de terra, deixando sangrar feridas para eternidade.

Na pequena ilha, o microcosmo das relações humanas em sua totalidade, atemporal e universal, que se daria em qualquer época, em qualquer sociedade, desde as primevas até as mais sofisticadas, high tech. Afinal,  o que conta é o Humano, suas nuances, seus humores, dores, escuridões, que raramente se tornam visíveis, mas quando se expõem, explodem no caos, provocando rupturas e mais dores.

A irmandade de sangue, étnica, ética, ou de identidade, proximidade e camaradagem são postas à prova pela psiquê atormentada, pelos mais sombrios dos conflitos humanos, os de consciência, os internos e íntimos, que nem o padre/confessor entende. Esse lado obscuro se reflete nas cenas fechadas, mesmo nos momentos felizes, das belas musicas, são escuras, sombrias, nos levando direto para dentro da consciência daquelas almas perdidas.

São personagens díspares, Pádric e Colm, um enfrentamento entre um elemento simplório, generoso, sem malícia, mas bronco, como tantos na vida comum, diante de um homem culto, em desespero por chegar no limiar da vida e nada criou, não se eternizou. A ruptura pode ser é uma fuga, mas as soluções brutais, parte daquele que, em tese, teria mais recursos intelectuais para compreender a vida e suas variadas formas de ser.

As atuações dos atores são espetaculares, Colin Farrell, Brendan Gleeson, Kerry Condon, todos muito bem, profundos, convincentes, uma direção especial, mais uma vez de Martin McDonagh. A mitologia celta é sutil e alegórica, não é um filme fácil, mas é estupendo.

Imperdível!

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