
são treis irirmã firina
a Morte a Saudade a Dô
(Gabriela – Elomar)
Mais uma semana que vai morrendo no horizonte, o fim de tarde, quase noite da sexta, meio avermelhada do outono de São Paulo, entre frio e calor, várias vezes no mesmo dia, na mesma semana, o que faz com que a saúde fique debilitada com tão bruscas mudanças de humor e temperatura.
Aqui no ouvido toca Elomar que canta sua ópera do sertão, da catinga, naquele português provençal, descreve a vida sofrida, as dores e a visão messiânica, de um deus cristão que voltará à terra, não mais seu filho, para salvar os seus, os que lhe seguem fielmente mesmo com tanto sofrimento, como se fosse (e é) uma provação de fé, ainda que incerta a salvação.
O cenário que o poeta Elomar canta me traz uma profunda reflexão sobre o por que, ou para quê se vive. Justo nesse dia em que, mais cedo, estive ao lado de Padre Júlio Lancellotti, por alguns instantes, pois ele é cercado pelos seus, é como se o sertão e a ópera de Elomar, se materializasse nessa imensa metrópole, a terra não é seca, é asfalto, é pedra e desolamento.
O Padre caminha de um lado para outro, num vai e vem, tantos pedindo qualquer coisa, um pedaço de pão, uma camisa, uma calça, um socorro com uma cirurgia, um exame, uma internação, ali a dor pulsa, uns pedem um advogado para lhe salvar da exploração miserável do patrão que lhe usa como escravo, algumas palavras e uma esperança lhe traz.
Sob a observação de um outro que está ali estudando no banco da pequena igreja, quer a inspiração e a razão para viver, ali, segundo me conta o professor de um Instituto Federal, pode estar a chave da vida e de se viver, entre os mais humildes e excluídos, uma missão de vida e fé.
Outros são curiosos que apenas querem atenção, nem sabe para quê. O entra e saí de nova doações, roupas, produtos de limpeza. O que chega logo é levado para outros locais, para rápida distribuição, quem tem fome, frio, dor, precisa sem demora, a pressa pode salvar, aliviar e dar esperança.
Afinal, por que vivemos? Talvez para servir a uma causa, ou contemplar os que assim fazem, com sua arte ou com seu dom, o de inspirar e trazer uma palavra, uma ação que ajuda a enfrentar a dura realidade, o nada ter, ou nada ser, o abandono e a dor.