1221: Expiação


O retorno das pedras que carregamos (Sísifo, de Tiziano, 1549)

O retorno das pedras que carregamos (Sísifo, de Tiziano, 1549)

Talvez um dia perdido na memória pensei em mudar o mundo e/ou as pessoas, deve ter sido apenas um flash, um jogo de luz nas sombras, um desejo autoritário, impositivo, um voluntarismo tolo, fruto de uma compreensão errada sobre a vida, principalmente sobre o mundo. Tudo está aqui para ser mudado, começando por nós mesmo, mas a adesão a uma mudança é ato individual, que eventualmente se torna coletivo, organizado e preparado espontaneamente.

Nossas palavras, mais ainda nossas ações e exemplos, servem apenas para uma reflexão para quem nos ouvir ou interagir conosco. Nada mais que isso, sem o despertar interno, sem a decisão, ninguém muda ninguém, por melhor e mais abnegado que seja, ou por mais justa que seja a causa, a luta, a filosofia, o sopro interior, consciência é despertada individualmente, o passo inicial e decisivo para começar uma jornada, será sempre de cada um.

Os valores (não os financeiros) que acumulamos na vida, os vários conhecimentos e experiências que conquistamos ao longo dos anos são nosso maior e mais rico patrimônio. Então, quanto mais sólido e amplo, mais preparados estaremos de tomarmos atitudes concretas e consciente sobre o que queremos na vida e no mundo. Bilhões de pessoas têm acesso limitado aos melhores recursos e ferramentas para consolidar este conjunto de riquezas humanas e que pode torná-las autônomas no seu caminho que vão seguir.

Mais ou menos aos Catorze anos de idade, no fim do meu segundo ciclo humano, na minha segunda idade, despertou em mim a necessidade de viver projetos coletivos, de partilhar experiências, juntar-me aos grupos políticos que poderiam (ou não) mudar o mundo, as pessoas e a vida. Continuo nessa mesma perspectiva, apenas a maturidade é que me convenceu de que a pessoas buscam trilhar caminhos coletivos depois de sua reflexão individual (madura ou não), assim como saem, voltam e se vão de novo por si, um processo natural da existência e busca humana, que é, em última análise, algo solitário

Na verdade, bem lá no fundo, estou me sentindo numa jornada iniciática, ainda que inesperada e incompleta, em que muitas vezes me veja como um Sísifo, mas, ao contrário dele, não enganei os deuses, nem fui ardiloso o suficiente, talvez tenha tentado apenas iludir a mim mesmo. Nos últimos cinco anos, em especial, sinto que toda vez que a pedra de Sísifo (a minha) chega ao topo, ela rola abaixo, então tenho que retomar tudo outra vez. Nem penso em autocomiseração, nada disso, claro que é uma constatação, o que é um bom começo para tentar mudar.

A expiação é uma arte, no purgatório dura até mil anos, ou quem sabe acabe em mais um ciclo de Sete anos?

Tulisa – Titanium

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