2286: Novena


Enquanto a família reza novena
Nove dias se passaram marcados
Sem tempo sem nada e sem fim
No meio do mundo, do medo
E de mim desespedaçado em tanto verso
(Novena – Geraldo Azevedo)

Criado numa grande família de tradição católica, secular, com padres e freiras, entre santos e beatos, rezas, novenas,  trezenas, o terço e o rosário. da missa aos domingos, guardar o santo nome, o jejum dos dias santos e sacros, o celebrar da semana santa, não apenas da sexta-feira, dia das doações ao pobres, como também da troca de presentes entre as famílias e a ceia depois da meia noite.

Quando já é sábado de aleluia, o malhar do Judas, as roupas do luto, o silêncio, sem música, sem televisão e nem gesto de alegria, o respeito pelo senhor morto, a esperança de que no domingo, finalmente se faça a paz e a páscoa, pois ele voltou da mansão dos mortos e vem para redimir todos os pecados daqueles que nele cria.

O Corpus Christi é a confirmação de que o filho do homem, ressuscitou, mas ainda de que do pão consagrado é seu corpo, o vinho se transforma no seu  sangue, assim, se faz a comunhão da fé, mas para que se purifique é preciso sacrifício, fé e viver de sua palavra.

Essas lições pululavam na minha cabeça, por tantos anos, no mês da Padroeira, era o mês das novenas, da visita da imagem às casas, a santa saía da igreja e ficava exposta nas casas escolhidas pelo padre (entre os benfeitores, doadores paras as obras), uma honraria estranha na sala aquela gente rezando com fé, o cheiro de vela queimada e perfume das flores.

Décadas depois sempre que ouço a voz de Geraldinho cantando a Novena, é como se fosse arremessado ao passado, à infância e reviver aqueles mistérios, aquele ambiente de fé, enquanto lá fora, os milico matavam, torturavam e depois iam comungar e rezar como se nada existisse de mal, os homens de bens, sempre eles.

A doçura da voz e da poesia que vem aos ouvidos e a vida é fé e esperança, ainda que em nada se creia.

 Save as PDF

Deixe uma resposta

Related Post