Arnobio Rocha Mitologia Odisseu: Entre Cila e Caríbdes

1660: Odisseu: Entre Cila e Caríbdes


Odisseu e Penélope (Francesco Primaticcio,,1563),

“Quantos, na nau Sensualidade, que sempre navega com cerração, sem sol de dia, nem estrelas de noite, enganados do canto das sereias e deixando-se levar da corrente, se iriam perder cegamente, ou em Cila, ou em Caríbdis”. (Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira).

Odisseu, o filho de Laerte e Anticleia, protegido de Palas Atena, o herói de Ítaca o simbolo do desejo de retorno, a  sua razão de querer voltar ao local de origem, depois uma partida de mais de vinte anos. Há uma razão de fundo mais densa, na espera de Penélope, que fia enquanto espera o companheiro, ao mesmo tempo que rejeita os mais de cem pretendentes que tomaram a sua casa.

De todas as provações sensuais, resistir ao canto das sereias, amarrado ao tronco do navio, e passar pelos marcos mortais das tentações mundanas, fugindo de um lado, de Cila, do outro, Caríbdes.

O solerte Odisseu, homem cheio magia, de ideias, insights, da arte da ilusão recebida do avô, um famoso ladrão, Autólico, este filho do Deus Hermes, o protetor do ladrões. Ainda, Odisseu, tem Sísifo como pai mítico, em substituição de Laerte.

Sua enorme inteligência evitou guerras e terminou outras guerras, por graça e engenho de suas artimanhas bem engendradas, como o concurso para escolha por Helena, ou, em parceria com Diomedes, a ideia do cavalo de Troia.

O mais humano dos heróis gregos, o arquétipo do homem imperfeito, com todos os seus defeitos, suas trapaças, seus vícios. Por outro lado, há grande feitos de guerreiro, de coragem, inspira, em parte Falstaff. Nesse meio confuso, como todos nós, responde por mais complexos sentimentos. como na questão do amor, sensualidade, sedução, perdas e danos, e o retorno.

As contradições tão próprias de um homem comum, de todas as épocas, ainda que vestindo roupas de herói (o intermediário entre Deus e os Homens), ou, de outra forma, a condição de herói, que se humaniza e que se realiza no homem comum, na sobrevivência, nos seus percalços do dia-a-dia.

A sociedade patriarcal, da linhagem homem-macho que é derrotado ardilosamente pelos fios de Penélope, pela magia de Circe, a vida eterna de Calipso e pela força de Nausícaa.

O desafio continua sendo atravessar o mar revolto da vida, entre Sila e Caríbdes, pois estas, sempre estarão à espreita.

“Mas eu que despertara, refletia em meu irrepreensível espírito
se devia morrer, lançando-me nas ondas ou se permaneceria
em silêncio e continuaria entre os vivos.
Resolvi sofrer e ir vivendo…”
(Odisseia, Homero X, 49-53)

 

 

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