Arnobio Rocha Política As Cinzas da Quarta e a Sucessão do Papa

727: As Cinzas da Quarta e a Sucessão do Papa

 

O influente Cardeal brasileiro D. João Braz de Aviz – Foto : AP

 

Como não sou daqueles que acha que o ano começa depois do carnaval, acredito muito mais no momento da celebração, do espaço de alegria, felicidade, quase único no mundo, que reafirma a cultura do país e o modo de ser de nosso povo. Portanto, pouco importa a data do carnaval, mas jamais, para mim, será marco de início de ano, é uma visão elitista e torpe sobre a felicidade geral das pessoas. Ademais, o carnaval em si, movimenta amplamente a economia, com turismo, lazer e serviços, no geral o país não para, muita gente trabalha e garante o funcionamento das coisas.

Foi um carnaval, no mínimo atípico, graças à renúncia do Papa Bento XVI, que em plena segunda-feira, resolveu se retirar de cena. O que fez com que a folia fosse dividida, em certos momentos, entre alegria e esbornia com palpites e preocupações sobre o evento papal. Claro, neste meio tempo, um caminhão de piadas e ironias com a situação inusitada, afinal o humor prevalece.

Fiz um pequeno post sobre a questão do Vaticano, A Renúncia do Papa Bento XVI, que em pleno carnaval gerou bons debates nas redes sociais, demonstrando que o tema tem muito peso na atualidade. Os destinos das religiões, em particular da igreja católica, continua a preocupar, não apenas os membros da igreja, mas também que com eles interagem, convivem e debatem. Uma instituição de 2000 anos, que se ver no dilema de mudar e entender o novo mundo à luz não mais de seus dogmas, mas principalmente da realidade que a cerca.

Os desafios da maior igreja do ocidente parecem claros, aos que estão de fora, ou veem criticamente o que se passa no mundo, mas não é certo que possa se abrir ao mundo, a revolução de João XXIII, no Concílio do Vaticano II, dificilmente seria levada em frente por Wojtyla( João Paulo II) e menos ainda por seu tutor, Ratzinger, sob o nome Bento XVI. João Paulo II foi fundamental em ser pastor e ir ao mundo, carismático, surfou a onda conservadora, mas não acredito que tivesse o mesmo sucesso no momento atual. A complexidade dos temas e a comunicação instantânea produz um mundo com dinâmica acelerada, muito diferente dos ritmos e ritos de uma instituição milenar, pouco afeita às mudanças. Possivelmente, um novo concílio, sob a liderança de um papa mais jovem, poderia oxigenar a igreja e retomar o caminho do Vaticano II, o vácuo foi plenamente ocupado pelos pentecostais mais rudes e radicais da fé.

As cinzas, de hoje, são mais cheias de significados, os idos de março podem representar um marco na igreja, sinceramente não acredito num conclave curto, de 2 a 5 dias, que foi a média para escolha dos últimos papas, me parece que uma reflexão maior, um debate mais duro poderá se estabelecer, uma decisão mais madura e certa sairá dali. O Cardeal João Braz de Aviz, um dos mais influentes hoje assim responde ao questionamento do Estadão: “Qual é a Igreja que o sr. acredita que será necessária no século 21? Não é uma questão de busca por influência política. A busca é mesmo por um testemunho da mensagem. Não se pode ter duas medidas, uma atitude dentro da Igreja e outra fora que não condiz. O mundo está atravessando uma grande mudança que não é comparável a nada que já vivemos. O momento é extremamente exigente. Isso exigirá da Igreja uma grande capacidade de escuta. A questão que se coloca é se podemos ainda defender verdades eternas, que é justamente a proteção do homem e da mulher”. (Estadão , 13/02/2013).

Força redobrada no pós-carnaval, acompanhando o mundo e seus acontecimentos, é o destino deste blog, bem típico destes novos tempos.

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