Querida Letícia,
Começo a escrever esse texto faltando poucos minutos para o que seria seu vigésimo sexto aniversário. Sim, o 20, seu número sempre, é/era um dia especial, cheio de brincadeiras, falsos esquecimentos, que você desde cedo perguntava, um mês antes: “o que acontecerá daqui a trinta dias”. Depois voltava e dizia: “O que acontecerá, em 15, 10, 5, 4, 3, 2″…e a minha resposta: Não sei, o que é? Seu rosto se iluminava e ria, sabe, sim…
Assim era nossa brincadeira, por tantos anos e hoje apenas me angustia em não ouvir suas perguntas, mesmo quando estávamos em dias mais difíceis, haveria de ser algo especial, nesse dia, para sua mãe amada, para sua irmã amada, para mim, essa corrente de amor nunca se quebrou, talvez seja o que mais me dói e doerá até que já não existamos. Quem esses escritos poderão sobreviver e contar sobre você, sobre nós e de como você foi tirada de nós, tão violentamente, roubada de nós.
Ainda que seja patético para muitos, nunca será para mim, para nós, pois para nossa família, a sua existência nos dignificou, não temos como agradecer os 21 anos vividos juntos. Isso se deu desde aquele dia conturbado para chegar na maternidade, se seria na São Luiz, lotada, fomos para Pro Mater, no meio do caminho, em frente ao Parque do Ibirapuera, demos a volta e você nasceu na São Luiz, aquela linda menina.
Por tudo que vivemos, o que realizamos, tanto amor e tanta amar, a sua irmã, que você pediu, achando que seria o “Caio”, imediatamente, mudou e ficou feliz por vir uma menina, a Luana, a quem você deu o nome e com seus 4 anos, queria no colo, como se fosse sua boneca, sua irmã que você cuidava e lhe ensinou a falar, a espilicute, como Emília danou-se a falar, a ler precocemente, sua companheira de filmes, de séries, de aventuras.
São ângulos de uma menina, uma garota, uma moça e uma mulher corajosa e destemida, que enfrentou tudo tão forte. Era talentosa, o maior dom era ser presente, ser a companheira da Mara, aquela que ficava ao lado, apenas para estar presente e lhe acompanhar em tudo, porque você escreveu que sua missão era fazer as pessoas felizes, e nos fez, especialmente a sua mãe, tão maravilhosa, e que você por sua generosidade, lhe seguiu na Odontologia, na USP, em tudo.
Fui um privilegiado, sem merecer, em ser seu pai, seu amigo, que tudo tentava fazer por si, lhe dar energia, força, realizar seus desejos, lhe fazer, assim como para Luana, se sentirem especiais, que ela não leia, você maladrinha queria que dissesse que era a preferida, devia fazer o mesmo com a sua mãe, claro que a Luana lhe tinha como um espelho, de tanto lhe amar, até no banheiro, ficava ao seu lado.
Foram 21 anos de tantas alegrias, assim, cada 20 de setembro, mesmo nos momentos críticos de sua doença, ou nos momentos de absoluta felicidade, como nos seus 15 anos, serão sempre inesquecíveis e são relembrando com muito amor, saudade.
Confesso que nestes últimos 5 anos não foram nada fáceis, muitas vezes nos sentimos que apenas sombras fôssemos, mas seguimos, sabe-se lá como, por você, por Mara, por Luana, vamos em frente, com amor e dor, mas alimentados por seus sorriso e luz.
Beijos. com amor,
Do seu velho pai.