Arnobio Rocha Reflexões De novo o Tempo, o futuro do pretérito.

2266: De novo o Tempo, o futuro do pretérito.


E o tempo passou, mas não vimos e nem sentimos.

“O mar nos tragou, mas alguns foram golfados neste palco –
Para, por esse destino, encenar um ato
No qual o passado é o prólogo e o que vier
Decorrerá de nosso desempenho”
(A Tempestade – Shakespeare)

O passado, até bem pouco tempo era uma segurança, justamente por ter ficado para trás e, de alguma forma, sobrevivemos, mesmo que tenha se vivido coisas ruins, as lembranças vão ficando embaçadas e depois elas nem parece que foram assim tão ruins, alguns até esquecem e viram saudosistas e criam uma relação idílica com o pretérito.

De toda sorte no passado repousa uma certeza, uma conformação (ou arrependimento) de que não voltará, óbvio que suas consequências, suas construções boas ou más, terão repercussões no hoje, e no porvir. Mas passou existiu, isso trás uma sensação de que se seguiu em frente, de que as lições servirão para se errar menos, ou de que se saiba como sair melhor de situações já vividas.

É nisso que reside o saudosismo, que muitas vezes nos prende ao passado, mas, claro que um prazer íntimo de que já sabemos de alguma coisa, de que aqueles acordes de A Whiter Shade of Pale, serão sempre belos e confortantes, trazendo momentos e prazeres ao que se vive agora, mas não terá surpresas, ela está tatuada em nós.

A mesma coisa quando lemos (relemos e relemos) A tempestade, para ficar na sofisticação mais leve do bardo, o ajuste de contas entre os personagens que reaparecem como fantasmas, são tragados pela magia da ilha, desfeitos por uma reconciliação do amor, fundindo tempo e espaço, no amor e encantamento, não importa quantas vezes leia, ou assista, o livro de Próspero será sempre ele e grandioso em sua beleza e versos.

Uma criança em tenra idade assiste várias vezes o mesmo filme e pede de novo, por uma razão bem simples, a previsibilidade do que acontece, ela não extraiu plenamente o que viu antes, mas se sentirá segura de que tudo acontece, tem um fim e ela absorve a mensagem.

Jovens e adultos, pensamos sempre na novidade, no que virá, nas incertezas que nos surpreenda e nos arrebate, até mesmo nos engane, ideias, política, ideologia, amores, dores e paixões, faz parte do descobrir e experimentar, mudar o que é presente, mas, principalmente, brigar com o passado, ultrapassar nossos pais e o que se foi, ainda que, não se consiga a utopia do novo.

Na maturidade, em alguma medida, procura-se a verdade de quando se era criança, voltar a viver o que se viveu, para que nada se altere e que não tenhamos nem um controle do que está acontecendo, é o conservadorismo que nos prende, que nos amarra ao passado, pelo medo do que virá, pois fatalmente não seremos os protagonistas daquilo que não criamos.

É dessa síntese que vamos vivendo nossos medos, nossos arroubos, nossos valores e a ética que nos movimenta e que traduz nossas relações de afetos, carinhos e amores.

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