Arnobio Rocha Estado Gotham City A Vitória de Lula e a luta contra o Estado (ultraliberal) de Exceção como Regra.

2222: A Vitória de Lula e a luta contra o Estado (ultraliberal) de Exceção como Regra.


Lula recebe a sua diplomação da mãos de Alexandre de Moraes, um dos seus algozes em 2018.

“Ah, céus. Que dilúvio de males inunda a Pérsia e a raça inteira dos bárbaros” (Os Persas, Ésquilo)

O Século XXI, o primeiro do novo milênio, trouxe de volta todos os elementos da luta de classes, que o final do século passado, depois de 1989, os ideólogos do Kapital juravam ter acabada. As formas de lutas, de resistência, assim como a sofisticação da hiper exploração humana, mudaram, esses enfrentamentos se dão de forma muitas vezes atomizadas, localizadas, mas a chama da ruptura e da liberdade humana, nunca se apaga.

A década de 10 foi marcada por uma enorme ebulição de fatos e fenômenos que muitas vezes pareciam absolutamente confusos, ou a negar-se, como se não houvesse uma narrativa coerente ou mesmo uma lógica nesses movimentos tão díspares e contraditórios, no entanto, o tempo vai revelando passo a passo, aquilo que é fundamental, a história não acabou e a roda continua a girar.

O mundo assistiu estupefato a eleição de Trump, ou de Bolsonaro, perguntavam-se, os analistas, nervosos, sobre como seriam esses governos desses bufões. Honestamente não entendia com o que se preocupavam, vivemos o mais do mesmo há quase quatro décadas, quando o maior dos farsantes chegou à Casa Branca, sem que o mundo acabasse, ao contrário. O ator de filmes B, Sr Reagan, estava Presidente, mas quem realmente mandava era o Democrata ultraliberal, Paul Volcker, o homem do Goldman Sachs no FED.

Esse é o centro da política do mundo atual em que a democracia representativa quase ruiu e pouco ou quase nada representa. Os presidentes eleitos, os primeiros-ministros, assim como os parlamentos e congressistas hoje não mudam uma vírgula do que está estabelecido pelo Kapital Financeiro e seu controle sobre o Estado através das Agências Reguladoras, fonte última de poder e determinação dos caminhos da vida da sociedade, de forma quase “invisível”.

O Poder Executivo de mãos atadas pelas agências, o Poder Legislativo sequestrado pelos lobbies (legalizados ou não), sobra o Poder Judiciário, a última perna da tríade do Estado moderno, que se divorciou completamente do mundo real, vivendo com privilégios e agindo por força do mesmo tipo de burocracia perene, aliás, ele (o Judiciário) foi a inspiração do poder das agências, que não prestam nenhuma obediência aos trabalhadores ao povo, uma autonomia sui generis de Poder Real, não apenas formal. Aliás, o Judiciário, virou ponta de lança dos ataques à Democracia e à Política.

A crise do Estado Moderno que muitos atribuem à crise de representação, o que nos parece apenas a aparência do fenômeno, quando na verdade o que de fundo temos é o fim da concepção da Democracia e da Política, tal como conhecíamos. Várias vezes analisamos essa questão tão pertinente e decisiva para as ações públicas de qualquer grupo político que queira lutar por uma ruptura na atual sociedade.

No conceito que trabalhamos de Estado de Exceção, como Regra, que prefiro denominar Estado Gotham City, que é a preparação da completa autonomia da plutocracia em relação à Democracia Formal: Povo, Estado e Nação. Em nome de um Poder Real, do Kapital (sua fração principal: O Kapital Financeiro), o Estado passa a funcionar prescindindo de qualquer tipo de intervenção popular, voltado exclusivamente para o 1% que efetivamente determina a riqueza e os destinos da humanidade.

Por contradição, decorrente dessa premissa, um Trump da vida efetivamente não tem poder nem de ir ao banheiro sem que alguém o monitore e diga que papel use. Obviamente que o jogo de cena e o show devem continuar e na pequena porção que o eleito pode nomear, ele escolhe os piores entre os piores, nem que seja para constranger a já combalida democracia formal.

Um Berlusconi, bunga-bunga, um pequeno Sarkô, até mesmo um pequeno e insosso Temer, são figuras tipicamente desse momento torpe e de grande mudança do mundo. O tempo parece longo para nossa geração, mas historicamente não passa de um facho de luz (ou ausência dela). Assistimos perplexos aos eventos de ruptura, o escárnio provocado, mas ficamos impotentes diante deles.

Nos países periféricos como o Brasil, com elementos de contradições próprios, pelo desenvolvimento desigual em que nem as tarefas mais básicas das reformas burguesas não foram cumpridas, o que gera mais lutas e mais embates. Por outro lado, o Estado e o governo não se têm a mesma autonomia e força de agências, por exemplo, elas existem, mas não determinam a vida da Política.

Prova disso foram esses seis anos de Temer e Bolsonaro, que promoveram um desmonte completo do Estado, produziram políticas destruidoras de direitos trabalhistas, sociais e previdenciários, fora a liberalização à fórceps da Economia, a entrega do patrimônio público e a perda significativa da Soberania.

A volta de Lula ao governo, sua vitória, ainda que apertada, é o maior sinal de resistência nacional no mundo, uma lufada de vida e de esperança para continuar o embate no solo brasileiro, quem sabe inspirar a América Latina.

Até então, o máximo de consciente que se fez foi negar o modo de vida em que (sobre) vivemos. Os altos índices de abstenções, as eleições de plataformas fascistas ou de candidaturas caricatas, são as formas visíveis de contestações ao que assistimos. Há um profundo desprezo pela Democracia e pela Política, o que, em última análise, é exatamente o que mais deseja o Kapital. A desorganização e a indiferença não geram energia positiva para derrubar o sistema, ao contrário, o reforça.

A cada vez que abrimos mão de lutar, menos democracia e mais avanço da barbárie sobre os 99% do mundo. Juridicamente as exceções vão se impondo por medo do Terror ou medo da Corrupção, assim, voluntariamente, se aceita que os direitos sejam surrupiados, o maior deles a liberdade e a possiblidade de lutar.

Esses são os elementos de maior choque e conflitos da humanidade, não importa se estamos falando dos EUA, da China ou do Brasil. O que avança sobre nós é uma nova ordem sem Democracia e sem Política, o Estado de Exceção é a face jurídica e de força que garante o Poder Real aos seus donos e seus representantes (não eleitos).

Um mundo em ebulição, mas sem política de classes que nos liberte, naufragaremos…

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