Arnobio Rocha Tecnologia Influencers, hipsters, Gurus – A velha enganação com nova roupagem.

Influencers, hipsters, Gurus – A velha enganação com nova roupagem.


Internet é uma nova ágora? O funcionamento é livre ou controlado pelo Kapital?

A cultura grega, por influência de elementos vindos da Ásia, notadamente da Índia carrega vários valores comuns entre Xamãs e Gurus, os mistérios e os deuses. Essa cultura irradiou para o ocidente seus arquétipos, psique, o que ajudam a compreender comportamentos humanos, inclusive, no presente. A internet não inaugurou um NOVO ser humano, ledo embuste que tentam vender, ao contrário, traz uma nova embalagem (e velocidade) o que somos, desde sempre.

Um desses arquétipos que temos que decifrar são esse gurus, influencer, e essa bobagens “novas”.

Encontramos no deus Hefesto, um caminho de compreensão, o ferreiro dos deuses do Olimpo é uma espécie de xamã, segundo Junito de Sousa Brandão ele é o “Xamã dos nós, o deus-enfeixador. E graças a seus trabalhos artísticos e mágicos, como tronos, redes, correntes, é capaz não só de atar deuses e deusas e até o Titã Prometeu, mas ainda sabe, quando solicitado, desatar com maestria, conforme demonstrou, assistindo Zeus como parteiro, por ocasião do nascimento de Atená, e libertando sua mãe do trono e sua esposa e o amante Ares da corrente invisível”.

Junito cita Mircea Eliade para melhor definir Hefesto e seus poder de amarras, de dar nós  “Em parte alguma, aliás, a equivalência da magia e da perfeição tecnológica é mais bem valorizada do que na mitologia de Hefesto (…). Os nós, as redes, os cordões, as cordas, os barbantes alinham-se entre as expressões ilustradas da força mágico-religiosa indispensável para poder comandar, governar, punir, paralisar, ferir mortalmente; em suma, expressões ‘sutis’, paradoxalmente delicadas, de um poder terrível, desmedido, sobrenatural”.

Ora, muitas vezes não percebemos a repetição dos comportamentos e de elementos na sociedade atual, como se fosse algo Novo, não reparando a longa tradição humana e sua Psique.  Como ainda diz o mestre Junito que “todo esse poder maravilhoso e terrível, construtivo e destrutivo, Hefesto o deve ao domínio do fogo, apanágio dos xamãs e dos mágicos, antes de se tornar um grande segredo dos ferreiros, metalúrgicos e oleiros”. 

As Artes novas ou velhas carregam esta imensa carga do nosso inconsciente coletivo, os deslumbrados pensam: tal coisa é o Novo, quando se olha de perto nada tem de novo.

Um pouco antes das famigeradas de junho de 2013, nas redes sociais, sem todos esse “poder” e controle de corações e mentes, começava a despontar umas figuras que se vendiam como gurus, altamente entendidos em nada, mas que pareciam saber sobre tudo, em particular, sobre os meios digitais, a comunicação e como influenciar pessoas e comportamentos.

Esses gurus, ainda se apresentavam como “ativistas digitais”, desbravadores de uma nova seita, digo, veio, de exploração política, cultural e econômica. Os canais de Youtube começavam a ser monetizados, então a corrida do ouro foi imensa, os blogs, pequenos portais, não conseguiam se distinguir dos grandes portais e sobreviviam mal e porcamente, sobrava talento e vontade, mas não tinham ferramentas e capacidade de competir.

Naquela época fui muito crítico com o comportamento de parte da esquerda que embarcaram nessa canoa, percebia que havia uma política clara de cooptação e aprisionamento político e a dependência econômica, alguns brigavam por verbas públicas, como se pudesse ser a “mídia do B”, faltava canais realmente fortes e independentes, muitos acabaram financiados por ONGs by Soros, um dia a conta chegaria, como chegou.

Daquele momento para hoje, a coisa apenas piorou MUITO, aquilo era quase romantismo, debates duros, mas dentro de uma perspectiva de convencimento, mudança de rota, de acertos e erros, que mesmo com diferenças estávamos no mesmo campo político.

A grande virada se deu, no Brasil, com as tais jornadas de junho de 2013, o que emergiu dos esgotos da internet, tomou conta da cena, explodiram com linguagem fácil, rasteira e discurso raso, rasteiro, mas que pegou rapidamente entre jovens, da periferias aos Jardins, com segmentação certeira. Óbvio que houve preparação, investimento e muito dinheiro para conquistar um público e determinar uma narrativa radical e de ruptura.

Passados quase 10 anos dessa onda, ainda não fomos capazes de romper plenamente com a dinâmica, o controle da internet por algoritmos, foi isolando correntes ideológicas, mapeando militantes e grupos, seus portais, blogs, contas em redes sociais, seus canais não estão nos grupos de buscas, numa evidente política de segregação, enquanto os grupos, extremistas inclusive, são tratados com amplo apoio e a facilidade de acesso.

É uma realidade complexa, muitas vezes leio que a “esquerda” não sabe se comunicar e nem conhece as ferramentas das redes sociais. Sinto dizer, não são estes os pontos da questão, o que vale e se define é que as redes têm um rígido controle e que a esquerda não terá acesso, faz parte da estratégia do Kapital, não da nossa.

É repensar os embates e como atuar, por dentro e por fora.

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