“O tempo que terei para agradar aos mortos, é bem mais longo do que consagrado aos vivos…hei de jazer eternamente!” (Sófocles)
Estranhamente condenamos o Kapital pela apropriação de desejos e sentidos, a imposição de certo comportamento, padrão que bem nos lembrou o Coringa de Joaquim Phoenix: Sorria.
Ora, é apenas a sua própria reprodução (do Kapital) que está em jogo, o sorrir, mesmo na dor, é o sintoma.
Contraditoriamente, mesmo os mais descolados e aqueles que lutam contra o Sistema, não toleram a tristeza, a melancolia, a fraqueza. Incomodam-se ao ver alguém para “baixo”, muitas vezes não fazem nenhum gesto no sentido de acolher, ao contrário, julgam as mazelas alheias, e provocam afastamento de gente com “vibe ruim”.
É preciso sorrir, fingir que está tudo bem, qualquer coisa fora disso, é DERROTA, exclusão.
A roda da fortuna gira para quem sorrir, é quase um mantra a busca pela “sorte” e pela “felicidade”, na maioria das vezes é vendida por animados coachs (quase sempre duros) que ensinam a arte de ser “rico”. Quando não por gurus tibetanos, com frases que nos fazem lembrar dos velhos sofistas gregos criticados por Aristófanes.
Alguns gurus sofisticam e celebram a pobreza, uma aceitação de que a sociedade é assim mesma, seja feliz com as migalhas, nada de revolta ou rebelião, o padre ou o pastor lhe negarão o pão da paz de espírito.
Seja feliz e alcance status social, é a grande receita de uma sociedade infeliz, adoecida em que o consumo é um remédio para males, uma fuga garantida da realidade. A frustração é uma nota recorrente que mais compras, penduricalhos não dão conta de aplacar.
A dor é perene principalmente quando os remédios aplicados são apenas placebos, entope-se com eles e eles não trazem consolo, ou apenas momentâneo. Abandonou-se as boas e velhas fórmulas da medicina de Asclépio que recomendava pensamentos puros, ou “limpar sua mente”, como forma de “cura”, pois, hoje, há drogas para tudo.
O ser humano é uma mera estatística, não é visto como único dentro de um todo, ao contrário ele é visto como todo e apenas mais um.
As sofisticadas subjetividades, de um sertanejo matuto, ou de um geek de Harajuku, são sacrificadas num padrão, que é vinculado apenas ao consumo, como este ou aquele pode consumir e girar a roda.
Nem sempre é o sorriso que denota a felicidade, pode ser apenas uma mentira sorridente, feito numa propaganda de um banco, de um celular, uma marca de roupa. E no íntimo só dor e tristeza.
É isso, por enquanto é diagnóstico, azedume, quem sabe outro dia, não vira sorriso e leveza?
“A felicidade corre sem parar
Bela é uma cidade velha”
(Frenesi – Fagner)