Arnobio Rocha Literatura Memórias "vivas" de Machado de Assis

388: Memórias "vivas" de Machado de Assis

 

Machado e suas Memórias

“Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto”  (Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis)


Dei de cara hoje com um link do jornal inglês, Guardian, com uma nota sobre os melhores livros que o genial cineasta Woody Allen apreciava. Entre os 5 mais ( Top 5 ), estava “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do não menos genial escritor brasileiro, carioca, Machado de Assis. Além de muito feliz, por esta escolha por parte dele, que deve levar muita gente no mundo a ler e descobrir Machado, também, lembrei-me de quando li a primeira vez o livro, que sem dúvida é  marcante, inusitado, estranho ( no sentindo do cânone, como me ensinou Harold Bloom).  Aliás, Bloom, já disse o quanto gosta de Machado de Assis, que fez inclusive dominar o português para entender a classe do escritor.

 

Descrevi no post sobre Influências Literárias o meu processo de iniciação às letras, em particular no final do ginásio e no início da Escola Técnica, o meu querido Professor Roberto Falcão, me influenciou decisivamente por Jorge Amado e Érico Veríssimo, quando estava no 7ª e 8ª série, enquanto, para a maioria dos amigos, ler aqueles livros “obrigatórios” era um saco, para mim se tornou um doce prazer. As raízes de brasilidade, conhecer os povos daqui, com Jorge, a Bahia, os santos e orixás, a luta de classes sutil ou não nos romances. Com Érico, o sul, o gaúcho. Enriquecedor demais.

 

Quando estava no curso técnico, o que menos se queria era saber de matérias “normais” como Português, História, geografia, justamente o que mais gostava, mas fazer o que, tinha escolhido Telecomunicações, que iria privilegiar  – Física, Matemática, Eletromagnestismo, Comutação de Circuitos(analógicos e digitais). Quase nada de humanas, mas o grêmio e minha inclinação por literatura não me afastou do prumo. Meu grande mestre foi o Professor Mário, suas poéticas aulas, seu amor pela língua portuguesa, mais ainda por literatura. Machado de Assis era “exigido” quase que mês a mês naquele 1985, foi daí que conheci o “Memórias Póstumas”.

 

O livro é uma viagem ao contrário, em primeira pessoa, pós-morte, o morto nos leva a sua vida, seu habitat, sua gente. Escrito em 1880, é incrível como antecipou e influenciou tantas correntes literárias futuras, o realismo fantástico, o modernismo. O corte cruel e bem humorado da sociedade imperial, da capital, o Rio de Janeiro. Ler aquele livro, depois conhecer o Rio, você passa a entender um pouco de tudo o que é este povo, seu modo peculiar de enxergar a vida, de achar as soluções, de viver com leveza, humor. Ler Machado é viajar  na alma carioca, brasileira, do nosso mais genial escritor, talvez o mais o universal dentre todos.

 

A obra aqui em domínio público, pode ser baixada gratuitamente : MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

 

Boa leitura!

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0 thoughts on “388: Memórias "vivas" de Machado de Assis”

  1. Arnobio, meu percurso literário foi muito semelhante ao seu: Machado no ginásio, mas me apaixonei em seguida pelo grande Graciliano Ramos cujos textos releio de vez em quando. É uma delícia descobrir a literatura, não é mesmo?

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