Arnobio Rocha Política Passos para o 11 de Setembro (Post 118 – 72/2011)

119: Passos para o 11 de Setembro (Post 118 – 72/2011)

Introdução

Ontem iniciei esta série falando como foi meu 11 de Setembro, pedi aos amigos que compartilhassem no blog como fôra aquele dia na vida de cada um e realmente me surpreendi, obtive 88 depoimentos que fizeram daquele post algo muito maior e melhor do que meu pequeno relato.

Hoje vamos fazer um caminho para chegar ao 11 de Setembro, a TV americana ABC produziu uma mini-série que recomendo fortemente para entender o que estava por detrás daqueles ataques, Path to 9/11 é conduzido de forma muito objetiva, apontando todos os elementos envolvidos na preparação, feita baseada no relatório do congresso americano com milhares de paginas e documentos, reconstitui todas as políticas e lacunas dos EUA em relação a Osama Bin Laden.

Afeganistão  e suas guerras

Ficheiro:Day after Saur revolution.JPG

Este post visa também fazer uma pequena localização histórica e contextualizar o mundo até o evento fatídico. A peça chave para a compreensão do 11 de Setembro está na Guerra Fria, em particular a disputa geopolítica no Afeganistão. No Wikipedia há um post excelente contando toda a História do Afeganistão, segue o link para os mais curiosos, vou me deter apenas no período da revolta comunista de 1978 até o 11 de Setembro de 2001.

Afeganistão localizado numa região extremamente importante fazendo uma ponte entre oriente médio e o sul da Ásia, com divisas com países estratégicos, como China, Rússia, Índia, Paquistão e Irã. Esta peculiaridade fez com quem sofresse invasões estrangeiras que remontam a Alexandre, o Grande, passando por Gengis Khan, chegando ao século XIX uma ampla disputa entre Império Britânico e Russo, depois ferozmente destruído pela Guerra Fria e as guerras islâmicas (Sunitas x Xiitas).

Nos fins dos anos 70 uma ala do exército afegão aderiu ao PDPA, partido comunista sob influência da antiga URSS, promoveu uma revolta popular abolindo definitivamente o regime da família Khan, do rei deposto pelo seu primo e cunhado, que se torna Presidente via golpe, mas mantendo o regime no essencial. Com a tomada do poder pelos comunistas, eles promovem uma série de medidas liberalizantes como à liberdade para mulheres, fim do regime religioso e promoção do estado laico, reforma agrária.

Guerra Fria – EUA x URSS – o inimigo do meu inimigo é amigo

Ficheiro:Evstafiev-afghan-apc-passes-russian.jpg

Porém como o regime era tutelado pela antiga URSS e a reforma agrária teve ampla oposição nas províncias, o Governo americano de Jimmy Carter começa a treinar no Paquistão os Mujahideens, para preparar a queda do regime sob influência soviética. Em 1979 o governo enfraquecido pede a intervenção militar de Moscou, cerca de 100 mil homens do Exército Vermelho são mandados para Cabul. Com esta invasão, praticamente o Afeganistão fica dividido em dois países, a região da capital Cabul dominada pelos comunistas e com a proteção da ex-URSS e as províncias sob o controle dos Mujahideens treinados pelos EUA e financiados pela Arábia Saudita.

Esta coalizão liderada por forças locais, Mujahideens e brigadas islâmicas com paquistaneses, saudistas, levam a uma longa guerra de 1979 até 1989 quando abalados pela crise a Ex-URSS retira suas tropas de Cabul. Porém, o regime não é derrotado imediatamente, permanece no poder até 1992, quando finalmente os Mujahideens tomam Cabul.

Imediatamente começam uma guerra interna nas forças insurgentes, Cabul é dividida em 3 áreas de guerra, e só em 1997 as forças do Talebans, amplamente financiadas pela Arábia Saudita, expulsam Ahmed Shar Massoud da capital, e estabelecem o governo do Mulá Mohammed Omar, um fantoche de Osama Bin Laden, ele é um príncipe da família real da Arábia Saudita, que veio lutar contra o regime pró-URSS e foi treinado pelos EUA. As contas mais conservadoras chegam aos 40 Bilhões de dólares o que EUA e Arábia Saudita gastaram financiando a contra-revolução afegã.

As primeiras medidas do regime Taleban é acabar com qualquer liberdade, baseado na Sharia, as mulheres não podem sair às ruas sem um homem da família, têm que usar burca, todas as antigas conquistas do regime são revogadas. O governo avança para massacrar os Xiitas(ligados ao Irã), os comunistas e todo e qualquer cidadão que não os aceite, o saldo americano é francamente desolador. Seus aliados mais fiéis são confinados nas montanhas e reduzidos a menos de 25% do Afeganistão.

Al Qaeda – os novos “inimigos”

Ainda em 1979 o governo americano sofre um duro revés com a queda do governo do Xá Reza Parlev no Irã, uma ampla revolta popular que estoura nas universidades e chega às fabricas derruba de forma rápida a realeza do país, mas a falta de uma direção da revolução acaba levando os Aiatolás ao poder, sob influência Xiita.

Os EUA rapidamente se articulam com seu aliado iraquiano Saddam Hussein e nos começo de 80 começam uma longa guerra contra o Irã. Financiados e treinados pela CIA os homens de Saddam sustentam a guerra por 8 anos, muito mais que vencer, o maior objetivo era enfraquecer o inimigo. País mais prospero e preparado, o Irã venceria a guerra com relativa facilidade, apenas a ajuda americana conseguiu prolongar por tanto tempo a guerra. O regime dos Aitolás acabou se consolidando pela necessidade de combater o inimigo exterior.

Com o país arruinado pela guerra Saddam resolve invadir o Kwait para garantir petróleo e influência no Golfo, porém o Governo Americano, já sob a batuta de Bush Pai, resolve invadir o Iraque. Contando com ajuda da Arábia Saudita, os EUA mantinham base militar de apoio às tropas em território saudita.

Os tradicionais sentimentos religiosos islâmico, sob a influência de Osama e sua organização mais avançada a Al Qaeda, começam a ataques de vingança aos EUA por entrar na Arábia Saudita durante a primeira guerra do golfo.  Para eles os “cruzados” estavam em solo sagrado, para atacar o povo mulçumano. Osama vira proscrito no seu país, seus bens são congelados.

Desde este primeiro evento a necessidade de ferir o inimigo passa a ser a lógica da Al Qaeda. Em 1993 um furgão cheio de explosivos entra no World Trade Center, mas a carga não foi suficiente para levá-lo ao chão. A inteligência americana passa a ver Osama como um dos seus maiores inimigos.

A Al Qaeda passou a atacar alvos americanos seguidamente, sempre com ações espetaculares como nas embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, em 7 de agosto de 1998 com 224 mortos e milhares de feridos. Em 1999 o FBI passa a colocar Osama na lista dos 10 mais procurados no mundo. Em outubro de 2000 o Navio USS Cole foi atacado no Iêmen, oficialmente morreram 17 pessoas, porém há informes de mais de 200 mortos.

A tática de atacar e sumir por uns tempos foi extremamente eficiente, os vários cenários de lutas localizadas, o fim da Ex-URSS, tornaram os EUA os senhores do mundo e das guerras, mas subestemiram e negligenciaram estes sentimentos religiosos e tribais, jamais imaginaram que nasceriam um dia lindo de fim de verão como aquele de Nova York.

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  1. Não consigo entender bem essa fissura pelo Afeganistão. O que é, por ser rota de passagem de eventuais oleodutos? Não entendo mesmo, lá não tem nada que excite a cobiça dos piratas ocidentais…

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