Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0:Euro, Hora da Verdade

396: Crise 2.0:Euro, Hora da Verdade

 

O medo que se rompa de vez

Começamos a semana aqui na série Crise 2.0, debatendo a interessante coluna de Celso Ming, no Estadão de hoje – “O Euro, ou vai ou racha” . Pelo título já se tem ideia do tamanho do problema, corretamente, apontado pelo colunista,  que tanto respeito como divirjo, mas que traz debates tão importantes, sobre a Crise, mais do que o conjunto da esquerda organizada, infelizmente, constato isto.

 

Vamos ao que Ming escreve: “As urgências da área do euro estão crescendo de maneira assustadora. Não se trata apenas de providenciar socorro para economias incapacitadas de honrar seus compromissos externos ou bancários – casos da Grécia, de Portugal e da Irlanda.

Trata-se, agora, também de impedir séria deterioração das finanças de países bem maiores – como Espanha e, eventualmente, Itália. E, assim, de evitar quebradeira sistêmica dos bancos na Europa, caso algum país seja obrigado a deixar o bloco, como parece provável acontecer com a Grécia”.

 

A apresentação é irretocável e clara, há uma crise sistêmica, com provável perda de credibilidade generalizada, nos países mais atingidos pela crise, de que os depósitos bancário podem não ser honrados, ou, pior, serem convertidos para uma “nova” moeda fraca, por exemplo, o Draacma, na Grécia. Ming reproduz uma interessante tabela do FMI comparando os dados macros dos países do Euro anos de 2007 e 2012(projeções, que parece mais desejos):

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os números não mentem, leiamos mais o que nos diz o Senhor Ming, sobre a desconfiança quanto aos depósitos bancários:  “Esse movimento não se limitará à Grécia. O avanço aos ativos dos bancos já começou em outros países, sobretudo na Espanha. O Bankia, tido há alguns meses como saudável, já precisou de injeção de 10 bilhões de euros. Outras instituições financeiras espanholas precisam de pelo menos 60 bilhões de euros para enfrentar o desassossego dos clientes”.

 

Claro estar, que não há muito o que fazer, o renitente  Ming, que pregava o ajuste à la Merkel, agora concede: “É claro que um ajuste a ser feito com mais crescimento econômico fica mais fácil. […] Mais crescimento econômico apenas ajudaria a arrumação, quando ela começar. Para que o euro ganhe consistência, é preciso mudar muita coisa”. Passa a defender a solução francesa, da nova visão de EuroBônus, como suporte rumo à federação de estados, continuemos a ler:

“E é preciso o que até agora não foi possível: montar um sistema federativo na área do euro com um Tesouro comum, bancos em escala regional (e não mais nacional) e uma autoridade central com poder para arrecadar e distribuir recursos. Até agora, todas as tentativas nessa direção foram sumariamente barradas por alguns Parlamentos.

A única proposta que prevê algum grau de federalização é a da criação do eurobônus, que, de algum modo, criaria um sistema de compartilhamento financeiro. Mas, como se sabe, os vetos sumários de Alemanha, Suécia, Áustria e Finlândia o tornam impossível – ao menos por enquanto”.

 

Semana passada, na sexta, escrevemos exatamente neste mesmo sentido no post: Crise 2.0: Novos Tempos na UE?, quando assim assinalamos:  “A situação começa a se alterar de forma significativa com a vitória socialista na França, Hollande, desde sempre se mostrou imbuído de não aceitar a Austeridade como saída de mão única aos países da Zona do Euro, nem os demais da UE. Contrapôs a isto, o Crescimento, como equilíbrio à política de ajuste. O confronto com Merkel se mostrou inevitável, estiveram juntos na Alemanha, logo após sua posse, não havendo acordo, depois na reunião do G8, mas a coisa se tornou intensa na reunião extraordinária da UE.

Espertamente, Hollande, resgatou os pontos de Durão Barroso, além de incluir o “Eurobônus” como eixo central, numa estratégia inteligente demais, isolou completamente Merkel, que ao final só encontrou eco de suas posições na Finlândia e Aústria, representados pela extrema-direita.  De prático não se tomou decisão alguma, mas a semente do discurso francês brotou rapidamente, encorajou que outros líderes assumissem nova postura”.

 

Assim, nos parece, que chegamos a um ponto de entendimento de que a saída da Crise, deve apontar para uma Europa refundada, mas não no conceito alemão, de subjugo, mas nos termos propostos pela França, como bem lembrou ainda, na sua coluna Ming: “ Quando de sua criação, os pais do euro, principalmente o então chanceler da Alemanha, Helmut Kohl, e o presidente da França à época, François Mitterrand, foram avisados de que, sem consistência no núcleo da moeda, mais cedo ou mais tarde viria a crise. Mas eles optaram por ir em frente assim mesmo, no pressuposto de que um dia se criariam as condições políticas para a montagem da unidade fiscal e política dentro do bloco. Esse momento chegou. É pegar ou largar”.

 

Digo eu, Europa, está na hora da Verdade – ou se une, ou explode de vez.

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