Rubens – o rapto de Europa
Depois das reflexões do texto Noturno, acordei mais leve, vontade de voltar a ler os meus amados clássicos, como agora quase tudo leio na tela, fiquei procurando pdf/ebooks de algumas obras, infelizmente, nem todas tem nestes formatos, ou livrarias tentam “vender”, imagino que a família de Ovídio deve receber os líquidos direitos autorais.
Nesta busca encontrei uma belíssima tradução de “Metamorfose”, feita por Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho, para seu trabalho de pós-graduação. Além da tradução um excelente análise da obra, ele cita Calvino, numa definição espetacular da obra de Ovídio:
“Em “Ovídio e a contigüidade universal”, Calvino afirma: “As metamorfoses sãopoema da rapidez, tudo deve seguir-se em ritmo acelerado, impor-se à imaginação,adquirir evidência, dissolver-se. É o princípio do cinematógrafo: cada verso como cadafotograma deve ser pleno de estímulos visuais em movimento”.
O deleite de ler e imaginar Metamorfose é maravilhoso, o ritmo, o poema, as informações tão caras, transformadas em versos, como estes do nascer do mundo:
“Antes do mar, da terra e céu que tudo cobre,
a natureza tinha, em todo o orbe, um só rosto
a que chamaram Caos, massa rude e indigesta;
nada havia, a não ser o peso inerte e díspares
sementes mal dispostas de coisas sem nexo.
Ou estes de aproximar deuses e homens, como se todos, em Roma habitasse, com suas classes e castas:
“Existe em céu sereno uma sublime via:
Láctea chamada, de brancura bem notável.
Por lá os deuses vão até a casa real
do grão Tonante. À destra e à esquerda, os átrios
dos nobres deuses são, de porta aberta, honrados.
Outros locais a plebe habita; à frente ilustres
deuses potentes seus palácios dispuseram.
Este lugar, se me permitem a expressão,
ousaria chamar Palatino celeste”.
A Morada do Sol visitado pelo incauto Fáeton belamente descrito, assim como a terra e os que ele vivia, antes de ir ao pai,
O palácio do sol, sobre altas colunas,
em ouro e flamejante piropo esplendia,
reluzente marfim recobria-lhe o teto
e do bífore umbral saía luz argêntea.
A arte à matéria superava, pois Mulcíbero
aí, em torno à terra, cinzelou as águas,
o orbe terrestre e o céu que acima dele paira.
O mar cerúleos deuses tem, canoro Tríton,
o mutável Proteu e Egéon que comprime
o enorme dorso da baleia com seus braços;
Dóris e filhas; parte parece nadar,
parte seca os cabelos verdes nos escolho
sou monta um peixe; face igual elas não têm;
também, como convém a irmãos, não são diversas.
A terra nutre homens, vilas, selva e feras,
rios e ninfas e outras deidades do campo.
Em cima, estão a imagem de um céu refulgente
e seis constelações à destra, seis à esquerda.
( Metamorfose – Ovídio I – 168/176 – tradução Raimundo Nonato Barbosa de Carvalho)
São por livros assim que a vida vale a pena, ler, reler, reler, um longo aprendizado é só este o caminho, para nossa metamorfose.
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