Rembrant
“o que se tem, é tudo que se precisa” (Filosofia Zen)
As palavras nem sempre traduzem o que efetivamente sentimos, ou o que queríamos expressar de verdade, passar para o papel, ou ao computador, há uma perda clara, pois acabamos racionalizando, ponderando, mediando, medindo os termos. Mesmo nos momentos tensos, que a emoção mais aflora, subtraímos a crueza do que vivemos, tirando assim o discurso mais direto e preciso. Mesmo no meu caso em que escrevo imediatamente aqui, raramente com qualquer revisão e lendo depois, penso que não era exatamente isto que deveria ser, mas fica sendo.
Motivado pelo lado mais frágil da vida, a doença, ou a possibilidade de ir-se sem volta, como se toda nossa fraqueza, se tornasse mais visível, nos açoitando ou assustando, naquela situação de eterno desassossego, o único desafogo, que me resta é escrever, o diálogo, ou melhor o monólogo, vai saindo, com facilidade, às vezes, ou com certa dificuldade, mas em comum é que se torna dolorido ficar sem escrever, sem dizer algo. Uma parte do cérebro comanda os dedos e as palavras, a outra manda medir o que se expõe, as duas partes se unem para exorcizar a dor, a cor, a flor, o prazer de ter feito.
Metodicamente os textos fluem, cada um com seu tamanho, minuciosamente refletido na cabeça, mesmo que aleatoriamente, os parágrafos, os termos usados obedecem a uma lógica certeira, como se desse uma coerência ao caótico pensar. O turbilhão de sentimentos não atrapalha o método, ao contrário, ajuda, personaliza uma forma de fazer e ser, meu corpo e mente se abrem, como se em praça pública me despisse, mostrando o que sou, como sou, sem poder mais esconder qualquer parte do meu ser, talvez pedindo comiseração, apoio, afeto.
A nudez não me assusta, a pele, os pelos, o pudor cobre, veste, mas o interior, as ideias e sentimentos estão livres para viver, criar, pensar, sem medo do ridículo, dos julgamentos. A culpa ou expiação não me seguem ou punem, tudo o que vivo é tão carne viva, que nada mais me oprime, nem mais o medo de morrer, pois agora sei que já vivo pelo que escrevi, a mensagem do que sou. A longevidade conseguida à pulso, o extremo que me libertou, me fez saber quem eu sou, sem receio de dizer: Hoje estou triste, amanhã não sei, quem sabe feliz.
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Muito boa leitura, Arnóbio.
“[…] A nudez não me assusta, a pele, os pelos, o pudor cobre, veste, mas o interior, as ideias e sentimentos estão livres para viver, criar, pensar, sem medo do ridículo, dos julgamentos.[…]”
Sem medo do ridículo, do que diráo, voltou-se para dentro de si e encontrou o próprio centro.
Parabéns.
Parabéns! Fiquei encantada, tambem adoro os clássicos, mas não tenho a sua sensibilidade e talento.Que bom seria encontrar pessoas como você que nos emociona.Voltatei mais vezes. Obrigada.