Arnobio Rocha Estado Gotham City Dolarizar ou Realizar a Economia Argentina?

2302: Dolarizar ou Realizar a Economia Argentina?


Argentina em crise e as velhas propostas.

A queda do muro de Berlim foi a grande vitória do neoliberalismo de Reagan e Thatcher, produzindo efeitos nefastos em todo o mundo, ao mesmo tempo em que prometia uma nova era de paz e de economia multipolar, sem fronteiras, muros, divisões ideológicas, entre outras promessas vãs.

O começo dos anos de 1990 produziu uma reacomodação política e ideológica no mundo, essa nova realidade da América Latina foi captada rapidamente e os novos ventos dessa nova ideologia vencedora (que dizia não ter mais ideologia) se impuseram. A Argentina dirigida pelas costeletas de Carlos Menem, o Brasil do saco roxo do Collor, ambos afinados com o neoliberalismo moreno, marcada pela dolarização e perda de capacidade nacional de desenvolvimento autônomo.

A breve passagem de Collor, abreviada pelo impeachment, deu a Itamar-FHC, a oportunidade de suavizar (tucanizar) as políticas neoliberais, mas o norte da moeda como fio condutor da economia foi fielmente seguida, uma dolarização disfarçada, perdurou por mais de 6 anos (a paridade), domando a inflação, no entanto causando enormes prejuízos à industrialização e perda de soberania, entrega de patrimônio público.

A experiência argentina foi mais radical, a dolarização foi de ponta a ponta, sem base real de produção de bens e serviços, os preços, salários e capacidade produtiva/tecnológica demonstraram com o tempo o desastre econômico, os empréstimos generosos do FMI, quando começaram a ser cobrados, a Argentina não tinha um moeda nacional e a bancarrota foi inevitável.

A queda da Argentina foi segurada pelo Brasil, principalmente, o fim dos anos Menem foram terríveis, agora, depois de décadas de crise em crise, o país vive ainda sob desconfiança de sua capacidade de cumprir obrigações econômicas, nesses últimos anos, a hiperinflação voltou a assombrar os argentinos.

As recentes eleições primárias deram vitória a um aventureiro, Javier Milei, um completo inepto, que usa as mesmas costeletas à Menem, de triste memória, a mesma proposição, sob a égide do ultraliberalismo, uma nova Dolarização, que salvaria a economia e o autoengano por mais uns poucos anos. A candidatura ultraliberal, boca suja, fã de Bolsonaro e Trump, não é uma piada, é uma ameaça real ao pais que parece mais uma vez perdido diante do mundo, que vive de uma riqueza do passado, de mais de um século.

O Brasil tem sido o parceiro de primeira hora, uma visão estratégica, que mesmo a economia argentina estrangulada, não foi abandonado, ao contrário, uma série de medidas para equilíbrio de comercio, criou uma “moeda” garantindo pagamentos e solvência, mesmo nesse cenário. Agora a entrada oficial da Argentina nos BRICS, pode oferecer uma oportunidade resgate sem o FMI.

Diante disso, não seria mais inteligente e estratégico para Argentina uma adoção do REAL, como transição ao invés de Dólar? Explico, o Brasil é o parceiro mais importante e que tem ajudado a Argentina em todas as suas crises nos últimos 25 anos, com FHC, Lula e Dilma, agora com Lula novamente. A “moeda” compensatória criada pelos acordos recentes, não poderia ser adotada nacionalmente pela Argentina?

O Brasil lideraria esse esforço com os BRICS e seria o fiador dessa transição Argentina, REALizar a economia do país seria mais factível do que Dolarizar, as torneiras de financiamentos e empréstimos em Dólar estão cada vez mais difíceis e “caros”, sem que a Argentina tenha ativos de interesse para os EUA, no entanto tem para o Brasil, China, e aos BRICS.

Esse plano livraria a Argentina de um governo neofascista e ultraliberal, que não traria nem um ganho para a América Latina, ao mesmo tempo o Brasil  conseguiria ajudar na estabilidade de seu grande parceiro na América Latina, reforçando sua liderança, sem no entanto impor medidas autoritárias que roubaria a soberania da Argentina.

É o que se exige do Brasil e da Argentina.

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