Arnobio Rocha Reflexões Dos Contrastes e Do Cinismo

1667: Dos Contrastes e Do Cinismo


A dose de cinismo para enfrentar a realidade (fotomontagem Kylli Sparre)

‘Us and them
And after all we’re only ordinary men
Me and you
God only knows it’s not what we would choose to do”
(Us and Them – Richard Wright / Roger Waters)

A melhor característica da humanidade é a imperfeição.

É trágica a busca por algo não humano, a perfeição. Essa loucura para ser reconhecido (a) como “bom” (“boa”), em qualquer campo vira paranoia, distúrbios que levam a uma infelicidade constante, ou felicidade cada vez mais fugaz, nada basta.

Curtam nossa capacidade humana de fazer “merda” em tudo que se mete a fazer, isso é viver. Construir, desconstruir, dá novos rumos ao que foi tentando, sem se preocupar com os resultados extraordinários, que mudem a vida e o mundo, nem sempre para melhor.

Algumas figuras, bem raras, conseguem ser e fazer coisas absolutamente geniais, estas são exceções à regra geral, pois 99% de nós só têm uma certeza, a de que o dia seguinte será mais um dia de trabalho e luta pela sobrevivência, nada mais, nada menos.

Essa é a toada geral, então, a realidade é cinza, e como nos faz lembrar Goethe, toda teoria é cinza, verde e frondosa é árvore da vida. Ainda que lutemos e nos batamos por algo mais, são as relações mais simples, as que determinam a vida, sua reprodução e a do seu cotidiano infindável,

No meio de tantos contrastes, contradições, talvez o cinismo nos mantenha vivos, galantes, frívolos, sonhadores, loucos, poetas.

Ele é o que nos faz suportar a dura e massante crueza do mundo real. Em situações limítrofes ele ajuda a responder de forma surpreendente às mazelas do destino, numa quarentena, numa guerra, numa disputa política, num relacionamento.

A representação de pernonas que cada um assume, para se adequar ao mundo padronizado, cheio de leis, regras, convenções, costumes, ditames que nem se sabe qual a razão de se obedecer e seguir nessa linha. A transgressão ou a aparente aceitação, só é possível com doses certas do cinismo diário, de sobrevivência, nada espontâneo.

E assim, seguimos, ou não.

 

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