Arnobio Rocha Reflexões Invisibilidade versus Eternidade: Os Sem Nomes e Sem Holofotes.

1668: Invisibilidade versus Eternidade: Os Sem Nomes e Sem Holofotes.


O que há por de trás cada holofote?

 

et quoniam uita ipsa, qua fruimur, breuis est, memoriam nostri quam maxume longam efficere… (De Coni. Cat., 1, 3). (“e, já que a vida que desfrutamos é breve, devemos fazer por deixar de nós a mais longa memória”.) (Caio Salústio Crispo)

Ainda reunindo forças que não sei de onde podem/devem vir, entretanto com a inabalável certeza de que virão, passo a rever velhos escritos e a fiar novas reflexões do que ali  escrevi. A proposição de Caio Salústio Crispo reverbera na cabeça, com a questão oposta: Por que deixar longa memória, se nossos feitos são breves na longa história do tempo?

Aqui mesmo tratei do tema em Brevidades e Finitudes, refletindo sobre o que nos define no tempo e no espaço, qual o lugar que ocupamos no tempo presente, o que fazemos e o que muito eventualmente será de útil para quem nos cerca, quando mais ao incerto futuro.

A inexatidão de quem somos, questão filosófica primeira, o que decorre ao que prestamos na vida, são pressuposto que não importa em qual época da humanidade (ocidental, minha referência humana/cultural) sempre exige uma resposta, consciente ou não dessa dimensão, sem nos preocupar se as perguntas ou resposta são refinadas ou com mais complexidade de elaboração.

Na Ilíada que segundo Paul Mazon é o primeiro ensaio de uma moral de honra, nela, Zeus-Pai, vaticina sobre os homens que Nada mais desgraçado que o homem entre todos os seres que respiram e se movem sobre a terra”, (Il. XVII, 446-447). 

Ainda assim, os gregos, sabendo do desprezo divino, de que nada valiam, se reúnem e, à sua maneira, fizeram prolongar no tempo sua miserável vida, através da Glória de viver heroicamente.

O mesmo Paul Mazon sintetiza que “O amor à vida torna-se, por isso mesmo, o princípio e a razão do heroísmo: aprende-se a colocar a vida num plano muito alto para sacrificá-la à glória, que há de perpetuá-la. Aquiles é a imagem de uma humanidade condenada à morte e que apressa esta morte para engrandecer sua vida no presente e perpetuar-lhe a memória no futuro”.

Ora, se somos condenados à morte, como diz Suassuna, “a morte é a única certeza de quem vive”,  por que querer ser lembrado? A resposta talvez esteja na necessidade de se eternizar, para além desse ciclo de anos cumpridos na terra, de outra forma, um egoísmo quase natural de se tornar perene.

Os grandes feitos, gestos imenso, reconhecidos, jogam holofotes sobre si, quando na verdade há milhões de heroínas e heróis anônimas (os), que não aparecerão em jornais, nos salões, nas rodas de conversas, pela invisibilidade dos sem nomes.

Por oposição, nos limites do que é humano, Aquiles tinha um ponto fraco, seu calcanhar, que é, antes de tudo, a vulnerabilidade da alma, nosso ponto último da existência carnal, de que não poderemos fugir, para que se faça cumprir nossa Moîra, nosso destino, não seria diferente ao grande Aquiles.

Viver, mesmo nas piores situações, é sonhar com o impossível.

 

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