Arnobio Rocha Reflexões Palavras Outonais numa Pandemia.

1664: Palavras Outonais numa Pandemia.


O céu entre o Azul e o cinza, o tempo entre frio e calor.

“O curso de minha vida
Chegou ao seu outono, à folha seca e esmaecida”
(Macbeth – Shakespeare)

Muitas vezes penso que esse Blog só sobrevive por muita teimosia minha, ele segue, apenas por essa obstinação, seria mais simples apagar tudo, esquecer e sumir ao vento como as bruxas de Macbeth. Eis que releio alguns textos, bate uma vontade de escrever, reescrever, aqueles momentos. Captar velhas energias, reciclar ideias e encantos.

O Outono é uma época tão linda e poética, traz as grandes lembranças, especialmente do Outono no Japão do Koyo, as folhas avermelhadas, a temperatura caindo depois do úmido e sujo verão japonês. Aquela mudança da paisagem, me marcou para sempre, passei a amar mais ainda a estação.

Outra relação com a estação, foi nela que estive em São Paulo pela primeira vez, abril de 1986, num Outono, amor à primeira vista, e naquele mesmo dia, disse aos amigos companheiros de viagem, encontrei minha terra. Estas coisas grudam na memória e tornam momentos inesquecíveis de nossas vidas. O outono passou a significar coisas boas, alegria.

As palavras muitas vezes não traduzem o que efetivamente sentimos, ou conseguem exprimir toda a verdade dele, ao passar para o papel, ou ao computador, pode ser a falta de talento, claro. Há também uma perda clara, pois acabamos racionalizando, ponderando, mediando, medindo os termos.

Muitas vezes sou motivado pelo lado mais frágil da vida, como doenças, miséria, fome, a morte que é ir-se sem volta. Esses sentimentos e de toda sorte das nossas fraquezas humanas, se tornaram mais visíveis nesses meses, nos açoitando ou assustando, naquela situação de eterno desassossego, o único desafogo, que me resta é escrever.

Claro que o diálogo, ou melhor, o monólogo, quase sempre vai aparecendo até com certa facilidade, noutras vezes, com dificuldades, pelos abalos que sofremos perda de vidas e de perspectivas., o que se torna dolorido escrever, dizer algo.

É como se uma parte do cérebro comandasse os dedos e as palavras, a outra parte manda medir o que se expõe, as duas partes se unem para exorcizar a dor, a cor, a flor, o prazer de ter feito.

Metodicamente os textos vão fluindo com seu tamanho, minuciosamente refletido na cabeça, mesmo que aleatoriamente, os parágrafos, os termos usados obedecem a uma lógica para dar uma coerência ao caótico pensar.

O turbilhão de sentimentos não deve atrapalhar o método, ao contrário, ajuda, criando uma assinatura própria, de uma forma de fazer e ser, talvez pedindo comiseração, apoio, afeto.

 

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