Arnobio Rocha Política Dilma e os seus primeiros desafios (Post 60 – 14/2011)

Dilma e os seus primeiros desafios (Post 60 – 14/2011)

“Deus me acuda! A arte é longa, a vida breve.” (Fausto- Goethe)

 


“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”, era assim que o grande Fiori Giglioti iniciava sua narração dos jogos esportivos, e é assim que vivemos este inicio do governo Dilma: estamos com 1 minuto do 1º tempo e já tem torcedor chorando a derrota. Normal se fossem os derrotados do ano passado, mas, pior, é parte dos vencedores.

Governo de coalizão é um estica e puxa, as peças do tabuleiro foram mudadas, algumas excelentes mudanças que podem confirmar uma ótima expectativa, tais como:

1)   Ministério das Comunicações com Paulo Bernardo e a trupe da Banda Larga, que pôs no debate já a questão da nova lei dos meios. Mudanças na ECT, que foi sempre o calo do governo Lula;

2)   Ministério da Saúde com Alexandre Padilha, que chegou montando uma renovada equipe e com substancial aumento no orçamento, de 66,9 bilhões para 77 bilhões (previsão), e também sinalizou a necessidade de valorizar o SUS. Troca de comando na Funasa, fonte de corrupção;

3)   Mudanças em Furnas, antigo feudo que também era fonte de problemas graves no governo Lula;

4)   Educação: a continuidade de Haddad, que faz excelente trabalho no MEC, mantendo e aumentando seu orçamento, ampliando o Fies e as vagas do Enem.

Mas há mudanças que nos preocupam:

1)   Previdência entregue a Garibaldi Alves, depois de excelente trabalho de José Pimentel;

2)   SAE entregue ao Moreira Franco;

3)   Cultura: depois dos acertos de Juca Ferreira houve uma mudança de linha com Ana de Hollanda, que tanto tem ouriçado os companheiros do Creative Commons;

4)   Relações Exteriores: saída de Celso Amorin deixa um vácuo pelo excelente trabalho e sua imensa capacidade dar respostas às crises internacionais; faltou no episódio do Egito e das revoluções em curso no mundo árabe;

Claro que este começo é tudo muito novo, mas esta nova equipe vem em sua maioria de uma ótima experiência sob a batuta de Lula, e agora terá que mostrar serviço com a presença de Dilma. Recentemente o ministro Paulo Bernardo, no #navaranda, definiu bem as diferenças de estilo entre ambos, dizendo que Lula cobrava muito, desde a época do PT, e que na presidência passou parte desta cobrança para Dilma. Agora que ela é a presidenta, naturalmente delegará provavelmente a Palocci esta missão, de saber o dia a dia dos ministérios.

Nos primeiros embates de formação da equipe Dilma sinalizou uma mudança na relação com o PMDB, tirando-lhe funções estratégicas e problemáticas (ECT, Furnas, Funasa), gerando estresse já nos primeiros dias; a imensa maioria dos cargos continua sem nomeação, mostrando uma disposição de não se negociar no varejo, mas uma perspectiva mais clara de partilhamento do governo feitas em cima de compromissos e projetos.

Episódio recente da tentativa de Moreira Franco de controlar o IPEA, numa suposta demissão, via imprensa, de Marcio Pochmann, serve para deixar claro quem está no comando, como se constrói a autoridade.

Visões à  Esquerda e à  Direita

“Vibra meu canto agora a ignota multidão,

cujo aplauso, ai de mim! me aperta o coração;

e os a quem meu cantar outrora foi jucundo,

erram, se inda alguns há, dispersos pelo mundo”

(Fausto – Goethe )

Direita e mídia tentam fazer um contraponto Dilma x Lula, com a clara visão de diminuir o papel de Lula, ou de jogar um com o outro. Sintomático que o Invejoso FHC tenha dito que “só em não ver Lula todo dia na TV” se sentia “melhor” (ato falho de inveja mais descarado que vi na vida). Todo dia um “colonista” escreve loas a Dilma como forma de desancar Lula — claro que Lula e Dilma devem estar dando risadas, pois ambos trabalham afinadamente desde 2003.

Os mais apressados à esquerda já condenam como governo de retrocesso, alguns até votaram em Dilma, a maioria no fundo sempre fez oposição ao governo Lula: não esperaria nem dois dias para “marcar posição”. Engraçado que elogiam Lula em detrimento de Dilma…

Apenas para relembrar: o PT e parcela significativa da esquerda chegaram ao Governo, não exatamente tomou o Poder, administra o Estado burguês. Claro que estão suscetíveis a vacilações, às pressões à direita e à esquerda. Cabe a nós sempre polarizar para políticas públicas que avancem na consciência e luta dos trabalhadores, criticar e dialogar francamente, compreender passo a passo cada conjuntura, cada cenário que se apresenta, para uma intervenção política mais forte e classista.

Nossa agenda

Aos apoiadores de Dilma, que estão no campo da continuidade das mudanças começadas com Lula: temos muito, mas muito a fazer, temos que elencar a nossa real agenda, e sair deste tiroteio de 3º turno inexistente. A agenda “Mico” não pode substituir a nossa real preocupação com o futuro.

Eis alguns temas candentes:
1)  Relação do Brasil com G20;
2) Questão da nova guerra cambial/comercial;
3) Recomposição de forças no cenário nacional, novo pacto federativo com reforma tributária;
4) Pré-Sal e seus ganhos para a sociedade: Educação, Saúde e erradicação da pobreza;
5) Reforma política e relação partidária no Congresso;
6) Tecnologia: PNBL, AI5 Digital;
7) Marco regulatório das comunicações;
8) Voltar aos padrões civilizatórios de convivência social, condenação cabal às manifestações neofascistas, com punição exemplar a quem as pratica;

São grandes temas que discutiremos pouco e darão o corte no novo momento que passaremos a viver. A perspectiva de Dilma fazer um governo mais “técnico” com composição mais preparada para dar respostas políticas, mas principalmente técnicas aos grandes temas, deveria ser nosso norte.

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