2573: Ao Seu Pedro Rocha!

Uma bela lembrança dos 50 anos de casados dos meus pais.

Hoje meu velho Pai, Pedro Rocha, completaria 83 anos. infelizmente ele nos deixou há quase 9 anos, num dia qualquer em que ele acordou frágil algo comum depois do AVC de um ano antes, essas fragilidades apareciam e iam, nada  que fosse para nos preocupar a mais do que já se vivia. Ele estava lúcido e de com humor, mas o estado dele se deteriorou rapidamente no decorrer do dia, de uma internação para combater uma pneumonia silenciosa, evoluiu para UTI e ao fim do dia seria entubado, no entanto, durante o processo ele se foi, seu coração não resistiu, partiu leve e sem muitas dores, é o que pensamos para melhor nos confortar.

Seu Pedro era uma figura humana distinta e grande, generoso e sábio e que foi se moldado ao tempo, mudou sempre para melhor, especialmente para a nova geração de netos e bisneto (na época só tinha um). Nasceu de uma família grande quarto filho em vinte dois, parte deles nascidos no campo e outros numa pequena cidade do interior do Ceará, os Rochas, tinham vida dura e quase fechados em si, até a geração do seu pai, muitos casavam entre si, primos, vivendo na fazenda, até que mudaram para vila que virou cidade, Bela Cruz, nos início dos anos de 1940, as primeiras escolas e novas formas de vida e economia.

O pequeno Pedro aos 11 anos conheceu a irmã do seu colega João Osmar, Fátima Lopes e ali disse que casariam, depois de muitas aventuras, inclusive com Candango, ele volta ao Ceará e reencontra a jovem Fátima, na época inclinada a seguir os conselhos do Padre Arnóbio para “servir a deus”, mas a promessa de criança é reafirmada e 3 anos depois se casam. Como diz nossa mãe, foram 52 anos e 9 meses de muito amor e muitas lutas. Os seis filhos (dois Arnóbios, acreditem) fizeram deles dois lutadores por nosso futuro, uma vida dura e simples que os dois partilharam igualmente.

Seu Pedro era um homem avançado para seu tempo e apoiou D. Fátima não apenas para trabalhar logo quando casaram, como a fazer faculdade, depois dos 6 filhos (5 vivos e pequenos), mesmo com as maledicências de cidade pequena que condenava “mulher casada deixar filhos em casa para estudar noutra cidade nos fins de semana”, ele não se importava e isso foi fundamental para nossas vidas nos duros anos de 1980, já morando em Fortaleza, em que a nossa mãe foi determinante financeiramente em nossa casa, sem nenhum problema entre eles e isso foi uma das maiores lições que tivemos para toda a vida.

Nos anos de 1990, diabetes, um dos olhos sem função, os velhos voltaram para a fazenda em que ele nasceu, uma pequena parte que lhe veio como herança, construíram uma casa e lá recebiam com enorme felicidade os filhos, netos, nossos amigos, e todos se encantavam pelo velho sedutor, contador de histórias, piadista, um humor fino por trás daqueles óculos que lhe davam uma ar sério. Os netos tinham verdadeira devoção por ele, seus conselhos, até seu pitos. Era uma dedicação comovente, um outro Pedro Rocha, feliz por tanto que a vida lhe deu, sempre bem humorado e otimista.

“Pai, como o Sr. está?”, ele respondia: “Vivo e achando bom”. Nada é tão Pedro Rocha do que isso. Ao lhe ligar, tomar a benção e saber como estava, a sua resposta era pronta e ria do outro lado do fone. Era assim, mesmo nas dificuldades, ele tinha força, partilhando com D. Fátima uma vida inspiradora, dura e vencedora. Ele deixou um legado para nós que nos piores momentos, vem a imagem e as palavras do velho para nos acalmar e seguir em frente.

Saudades, meu velho!

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Author: admin

Nascido em Bela Cruz (Ceará - Brasil), moro em São Paulo (São Paulo - Brasil) e Brasília (DF - Brasil) Advogado e Técnico em Telecomunicações. Autor do Livro - Crise 2.0: A Taxa de Lucro Reloaded.

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