De vez em quando revisito velhos textos do meu blog, acabo encontrando algumas coisas que escrevi e vejo como esses últimos 10 anos foram intensos em todos os sentidos, sem vaidades constato que mantive uma linha de pensamento e visão em perspectiva que se confirmou e me incentiva a pensar mais, pena que tenha sido incapaz de dialogar com mais gente, aprender mais, compartilhar ideias, foram e são meus limites.
Há dez anos publiquei o texto abaixo, sob o calor da “jornadas”, o termo ultraliberalismo não era tão usado. Pensei em recriar, atualizar, mas não precisa, quem chegar aqui, vai entender o contexto dramático, 10 dias depois daquele famigerado junho de 2013. Ao texto:
O Ultraliberalismo é a Barbárie
Tenho aprofundado o debate sobre a Crise atual, que denomino de Crise 2.0, mas não apenas as consequências econômicas, mas, principalmente, seus impactos sociais, na vida dos trabalhadores e da sociedade em geral. As mudanças que tendem a ser mais terríveis do que antes, pois há, no meu conceito, uma mudança de paradigma, ou uma tendência à barbárie social, no meio de guetos de extrema riqueza, cada dia menos partilhada, inclusive no coração do Capital.
Para dar suporte a estas mudanças fundamentais, o Estado mudará de qualidade, como escrevi antes: “O Estado Gotham City é a síntese da Crise 2.0, ele é, ao mesmo tempo, causa e resultado da maior crise do Capital desde 1929, uma crise que denomino de paradigmática, aquela que muda e aprofunda os controles do sistema. Do ponto de vista do Estado ele começa a ser forjado no final dos anos de 1970, com a Crise do Petróleo e das Dívidas externas no início dos anos de 1980. Precisamente com Reagan e Volcker(FED) o Goldman Sachs captura o Estado para si e começa a determinar a ordem do capital financeiro.
Os 25 anos de longo domínio desta lógica de funcionar do Capital encontrou limites na Crise 2.0 e na resistência do velho Estado de Bem Estar Social, que trava a “liberdade” total de movimentos mundiais do Capital. A Crise é o problema-solução, toda uma nova ordem pode advir dela, inclusive a Revolução. Mas, descartada a Revolução de ruptura, o Capital faz a sua própria revolução, ou melhor, impõe uma dura mudança dentro do sistema que lhe mais favorece, em detrimento dos trabalhadores e da sociedade. A “face mais visível é a repressão aberta, ou a sutil, a do controle de tudo que acontece na sociedade para melhor dominá-la”.(Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City).
Esta “LIBERDADE” não é valor para todos, mas para o Capital(K), porém, ideologicamente, é preciso que a sociedade comungue plenamente com este valor, cada vez mais abstrato, a tal Liberdade. Em nome dela e por ela se sacrifica qualquer valor anterior como solidariedade, comunidade e humanidade. Tudo se resume numa formulação simples e inteligível, queremos força para que você tenha mais liberdade, um contrassenso que não é jamais questionado. O movimento que melhor expressou estes conceitos ultraliberais foi o Tea Party, na extrema-direita.
Contraditoriamente, na Esquerda, estes valores forma assimilados de forma sutil, pelos movimentos de “Indignados” “Occupies”, agora, aqui no Brasil pelo tal “Gigante”. A maior expressão deles é a força pela diluição dos partidos, sindicatos e organizações civis, como se estes fossem empecilho ao “novo”, mas de que novo estamos a assistir? Um Estado ultraliberal, sem “políticos” sem ordem e sem freios sociais, como define: “A democracia passa a ser um “estorvo”, os velhos políticos ou as velhas formas de representação são tragados ao caos, esta aparente desordem esconde o “Novo”, um estado controlador, espião, policial que consegue galvanizar as revoltas não contra si, mas contra a própria democracia, vide Egito, Turquia e agora no Brasil. As massas perdidas gritando contra as instituições, contra os políticos, mas não contra o Estado. Aliás, este ganha força com as propostas de intervenções das “forças da Ordem” ou o surgimento de um Batman, de um herói que ajude a criar mais uma “máscara” e proteja o Estado Gotham City”. (Escândalo de Espionagem e o Estado Gotham City)
A cada dia novos episódios se somam, o mais recente, aqui no Brasil, é a questão dos médicos, que se recusam a atender no SUS (Sistema Único de Saúde), pois, corretamente, dizem que está sucateado, sem todas as condições, porém a questão não se resume a isto, há uma população carente que precisa de médicos, mesmo em condições não tão favoráveis. Mesmo com os salários vantajosos oferecidos em pequenas cidades de regiões mais inóspitas são recusados, mas também não aceitam que médicos de fora possam ser contratados, criando um entrave estúpido e desumano. Chegam ao absurdo de se dizerem “escravos” porque terão estágios obrigatórios, bem remunerados, depois de 2021, ano que termina a primeira turma sob a nova norma do MEC.
Isto não é um fato isolado, as manifestações racistas e pouco civilizadas protagonizadas pelos médicos foram de corar, cartazes abjetos e com educação zero dão prova deste individualismo burro e uma afronta à sociedade, pois não se trata de qualquer categoria, mas uma das mais preparadas e com melhores faculdades de educação PÚBLICA e GRATUITA, com acesso restrito à classe média alta e ricos, devidamente subsidiados pela sociedade, que agora desprezam, tendo claro que o peso maior dos impostos recaem fundamentalmente sobre os trabalhadores, que não tem como negar a pagar com desconto direto.
O liberalismo à la Tea Party contaminou o mundo, os cyberativistas vestidos de idiotas mascarados pregam a mesma liberdade egoísta da Direita. Conceitos como Cidadania, Urbanidade, Compromisso Social e Humano foram jogados na lata do lixo. O que tem valor, hoje, é a individualidade mesquinha, reflexo da sociedade ultraliberal do cada um por si e “deus contra todos”, assim vamos muito mal. A barbárie é um caminho, uma possibilidade cada vez mais visível no horizonte, quem a combaterá?