A vitória, apertadíssima, de Obama, comentei aqui na série sobre a Crise 2.0, no post Crise 2.0: Obama II, mas o problema de fundo, também analisado em outro post Crise 2.0: Obama x Romney e o Abismo Fiscal, é que a há pouco a comemorar, a crise que fez os EUA passar 6 anos com crescimento negativo, apenas em 2012 o PIB será maior que o de 2005(descontada a inflação), mas com o desemprego 60% maior do que naquele ano(2005). O horizonte continuar cinza, com embates cruciais ainda neste mês.
Os Democratas têm uma pequena maioria no Senado, mas estão em minoria na Câmara, o frágil acordo para votar o orçamento de 2012, em agosto de 2011 para evitar a paralisia geral do país, foi feito com base numa bomba-relógio, que explodirá em Janeiro de 2013. Os subsídios e incentivos não serão renovados, além da exigência de um corte de 600 bilhões nos gastos públicos. Agora que a economia reagiu, em cima de uma base baixa, cresce em torno de 2%, pode ser abortado o voo com esta nova realidade. O entendimento desta questão é fundamental, pois o contexto da crise se prolongará por mais anos.
Recorro mais uma vez ao excelente trabalho de Celso Ming, que hoje fala do mesmo tema que levantei na segunda-feira, a questão do “Abismo Fiscal”. É importante lê-lo, pois traz dados reveladores, sobre os desafios de Obama II. Leiamos: “O presidente Barack Obama não terá muito tempo para comemorar a vitória apertada nas eleições presidenciais de terça-feira. Enfrentará agora o desafio dramático do abismo fiscal (fiscal cliff), ao que tudo indica, em condições políticas complicadas. Nas próximas semanas, esse tema será o pesadelo que assombrará o mercado financeiro global, provavelmente ainda mais do que a ameaça de quebra da Espanha. Nesta quarta-feira, o temor do abismo fiscal derrubou a Bolsa de Nova York em 2,4% e os preços do petróleo em 4,8%. Mas não teria sido muito diferente do que aconteceria caso o vencedor fosse Mitt Romney”.
O enunciado dá uma ideia do buraco geral que a economia dos EUA se meteu, avancemos e vejamos de onde vem o problema, didaticamente explicado por Ming: “Para entender do que se trata, é preciso conferir as cartas à mesa. Tudo começa porque, nos Estados Unidos, o poder executivo não pode aumentar a dívida federal sem autorização do Congresso. Hoje, o rombo orçamentário (déficit fiscal) é de US$ 1,1 trilhão, em princípio, o valor a ser coberto por expansão da dívida pública. Em agosto de 2011, o passivo do Tesouro dos Estados Unidos chegara ao teto anterior, de US$ 14,3 trilhões. Depois de intermináveis negociações, Obama arrancou autorização para uma meia sola provisória que elevasse essa dívida para US$ 15,2 trilhões, com a possibilidade de que esse limite fosse revisto em fevereiro deste ano, no contexto de novo acordo com novas cláusulas.
Também depois de duríssimas negociações com os republicanos, que controlam a Câmara dos Representantes, o presidente Obama conseguiu que a dívida pudesse ser puxada para até US$ 16,4 trilhões. Para que a dívida se mantivesse nesse patamar foram impostas condições: a partir de janeiro de 2013, terão de entrar em vigor cortes automáticos de despesas públicas, de subsídios e de incentivos fiscais, conjugados com aumento de impostos, num total próximo de US$ 600 bilhões em 2013 (cerca de 4% do PIB). Hoje o passivo do Tesouro dos Estados Unidos está nos US$ 16,2 trilhões, já bem próximo do teto”.
Até aqui, estamos de total acordo, a questão é gravíssima e urgente, o tempo é pequeno demais, como bem lembra Ming, o congresso só volta a funcionar dia 13 de novembro, mas paralisará para o feriado de Ação de Graças( 22/11), além das festas de fim de ano, apenas um novo acordo, no meio das feridas da derrota dos republicanos, não parece fácil, o que o colunista do Estadão bem pontua: “Se a nova ponte política não for construída sobre o abismo, apenas os cortes de despesa e as elevações de impostos atirarão o setor produtivo americano na recessão (recuo do PIB). Certas projeções do Fundo Monetário Internacional avaliam essa recessão em cerca de 2% em 2013. Seria uma trombada de 4% no PIB (atual crescimento de 2% e futuro recuo de 2%). E, como todo abismo atrai outro abismo (Salmo 42, na redação dos Setenta), a recessão, por sua vez, tenderá a reduzir receita, o que exigirá ainda maior esforço arrecadador”.
O efeito cascata, pode desencadear, um aprofundamento da crise, jogando o mundo inteiro nesta onda negativa. A crise atinge de forma desigual a Economia Mundial, com EUA e UE sendo os mais avariados, mas os BRICS sentem os seus efeitos com o baixo crescimento (Brasil esperava cresce 4%, se conformará com 1,5% – que não é pouca coisa neste caos). A China enfrenta uma diminuição de sua atividade econômica, passa pelo processo de renovação de sua liderança política, com pesados problemas de corrupção na cúpula do Partido.
O futuro próximo parece mais sombrio, pelas declarações de Merkel, que também enfrentará às urnas em 2013, serão mais 5 anos de crise( Crise 2.0: Mais 5 Anos de Crise). Confirmando assim, que esta é a maior crise desde 1929, que pode a superar em longevidade, pior, não surgiu um Roosevelt, mas uma guerra regional se acende no horizonte. E pensar que os ideólogos do Capital achavam que a História tinha acabado, né?