Muitas vezes trazemos aqui na série Crise 2.0, visões de grandes economistas, que concordamos ou não, que nos ensinam como enxergar a Crise, como eles trabalham suas analises as propostas e o movimento do grande capital, fazemos nossas observações, sob a ótica marxista, tendo como critério apresentar o debate como um todo, sem precisar limitar nosso campo a uma única visão. Já citamos bastante Martin Wolf, Paul Krugman, Jose Martins, Celso Ming, Gilles Lapouge e tantos outros.
Ontem, em pleno “vendaval espanhol” que descrevemos no post Crise 2.0: O “Vendaval Espanhol”, hoje amplamente repisado na edição impressa do Estadão, até os gráficos que usamos, por uma coincidência, eles também publicaram, confesso que fiquei envaidecido, mostra que nossa linha de investigação estar no rumo certo, em linha com o que acontece no mundo, com foco de interesse no que o capital tem de mais frágil, as fraturas e problemas graves que se arrastam por meses e levam economias inteiras para o limbo.
Na edição do El País um pequeno e interessante artigo do Paul Krugman me chamou a atenção, o título era uma evidente provocação, mas ao mesmo tempo sua concepção sobre a crise atual, que ele acha se tratar de uma depressão idêntica ou maior que a grande Crise de 1929. O título era: “Bem-vindos aos anos 30”. Vamos ler/comentar alguns trechos, que ele começa citando Martin Wolf o Editor-Chefe do The Financial Times:
Martin Wolf é mordaz (e com razão). “Até agora eu nunca tinha entendido como isso poderia acontecer na década de trinta”, escreveu o colunista do Financial Times em um fórum de parecer emitido em 05 de junho . “Agora. Tudo que você precisa é de um economias frágeis, um regime de moeda rígida, um intenso debate sobre o que fazer, a crença de que o sofrimento é bom, alguns políticos míopes, uma incapacidade de cooperar e não antecipar acontecimentos ” . ( El País – 18/06/2012)
O humor ferino do britânico define exatamente, na concepção dele, o que se passa no mundo, tudo faz crer que estamos nos anos 30, as economias em queda, a rigidez da moeda pelo medo inflacionário, lideranças tíbias e um imenso debate público, mas que não se chega a lugar algum. Aí krugman, se associa ao que diz Wolf, complementando e ampliando o debate: “No momento, o Banco Centra (BCE) se recusou a baixar as taxas de juros ou anunciar outras políticas que possam ser úteis. Por que razão poderia haver para tomar medidas sobre o assunto?
[…]
Se falamos de uma ampla união fiscal ou algo semelhante, que parte do iminente colapso de todo o sistema, os alemães supostamente ainda não entenderam?
[…] é uma explicação em duas partes.
Primeiro, o BCE não está disposto a reconhecer que suas políticas passadas, especialmente os aumentos nas taxas de juros, foi um erro. Em segundo lugar, e isso é mais sério, eu suspeito que esta é a velha mentalidade de “trabalho de depressões”, de Joseph Schumpeter: a idéia de que todo o sofrimento de alguma forma cumpre um objetivo necessário e que iria mitigar esse sofrimento errado embora apenas ligeiramente.
Esta doutrina tem um inegável apelo emocional para as pessoas que se sentem confortáveis. Também é completamente louco quando você considerar tudo o que aprendemos sobre a economia nesses últimos 80 anos. Mas os tempos loucos são revistadas em ternos caros”.
Voltamos a época do castigo, a Sra Merkel com a palmatória na mão recebe de joelhos um a um dos pecadores e aplica palmadas, Rajoy, o pio cristão radical, será o primeiro da fila, sorrirá complacente, concordando que deve apanhar, assim achará o caminho da redenção. Realmente Krugman, Wolf têm razão, é um mundo estranho, dirigido por personagens tristes, cheio de medo e pecados mortais, incapazes de pensar nos que, efetivamente, pagam com seus sacrifícios o peso de uma dívida que não é sua.
A diferença é que desta vez os banqueiros não estão se jogando todos do alto dos prédios. Pena.