Arnobio Rocha Reflexões Eles Poderiam Estar Vivos – A Banalização do Mal.

Eles Poderiam Estar Vivos – A Banalização do Mal.


O documentário sobre a Pandemia e as perdas irreparáveis fruto da ação genocida e irresponsável de Bolsonaro e do bolsonarismo

“questões morais que têm origem na experiência real e se chocam com a sabedoria de todas as épocas” (Hannah Arendt)

Ao entrar no elevador, um vizinho fala amistosamente sobre as questões do prédio, sobre piscina, filhos, de repente viu que você estava com um adesivo de Lula Presidente, percebi que o vizinho mudou, fechou a cara e um silêncio constrangedor por 12 andares, que parecia não ter fim, pensei: Só falta acabar a energia, não acabou.

Lembrei das agruras, minhas e dele, a perda de minha filha, as palavras, naquele mesmo elevador, sentimentos de pesar, condolências e que “deus vai ajudar a suportar a dor”, “que o tempo cura”. Uma empatia rápida e meus agradecimentos, não me espanto o atual Bolsonarismo, é uma “identidade” de uma parcela da classe média, preocupada com seu Corolla financiado em 60 vezes.

Há episódios que indicam um comportamento, um certo padrão, então pouco convivo, nem assembleia de condomínio frequento, a última que fui, um outro vizinho senta ao meu lado, seria votado o orçamento para pintar a fachada do prédio, preço de tinta estava cara, ele diz: “Também o pai do Haddad vendeu a tinta para essas malditas ciclofaixas, aumentou o preço das tintas”, ou seja, era culpa do PT, espantado, perguntei de onde vem essa loucura, ele responde: “Tá aqui na Veja”.

Essa visão tolo, de pequenas mentiras na época, feitas para caber na conta do PT, foi se aprofundando para coisas maiores, o maior deleite desses vizinhos foi durante a Lava Jato, se empoderaram, os seus fantasmas, o risco de perder seu Corolla, estava salvo, pois o PT seria destruído, era “proibido” aparecer em almoço, jantares, ou festas, uma espécie de vingança pessoal era a provocação, algumas vezes até ameaça de violência.

Os rumos perdidos pelo Brasil, ainda não foram suficiente para curar essa loucura coletiva, se tornaram seita, violentos, ameaçadores, nesse meio é proibido pensar diferente, andar com roupas vermelhas, um simples adesivo, é uma provocação.

É como se houvesse uma dupla personalidade, pessoas educadas, afáveis, bons pais/mães, avôs/avós, filhos/filhas, bons profissionais, numa outra esfera cerebral defendem questões absurdas, até verdades elementares sobre a terra redonda, lei da gravidade, fatos históricos, vacinação, ciência, passaram a ser “questões de opinião”, aquela máxima “Política, ou Religião, ou Futebol, não se discute”, foi ampliada para tudo, a tal “liberdade de expressão”.

Valores civilizatórios elementares são relativizados, tratados como coisa de “comunistas”, esquerdistas. O desprezo pelos Direitos Humanos, pela diversidade sexual, igualdade racial, pela liberdade religiosa, criaram situações de confronto, de embates, muitas vezes nos cansamos de ter que reafirma questões tão básicas, como se a banalização do mal tivesse vencido.

A mente foi devorada pelos baixos instintos, a incapacidade de refletir sobre suas condutas, sem entender o que elas representam, uma onda, uma energia negativa, destrutiva, de que não é preciso pensar, ter um Bolsonaro como “mito”, um astrólogo como guru, o que diz muito sobre si, a redução à conceitos básicos, é uma fórmula simples para não perceber o todo, como se consciente do mal, não tomar ciência dele ajude a não sofrer ou ter crise consciência moral.

Durante a Pandemia vivíamos a situação mais extrema da existência humana, em época de “paz”, não apenas pelas mortes, mas pelas incertezas presente e futuras, esse comportamento hediondo, banal, se manteve, todas as ações para não ajudar a combater a pandemia, o desprezo pela medidas sanitárias, tirar sarro de quem morria por falta de ar, nenhum sentimento de pesar pelas mortes e pelas famílias, lares, laços e sonhos desfeitos, ainda assim, o tal “Mito”, permanece e se mantém como possibilidade continuar.

A sociedade adoeceu como um todo, em que momento aconteceu, como evoluiu essa “consciência negativa”, é uma grande discussão hoje e para o futuro. O problema urgente é quando vamos acordar como um todo, parar com essa realidade paralela, mais ainda, como e em que bases vamos sair desse buraco apocalíptico?

O Documentário “Eles Poderiam Estar Vivos” (Gabriel e Lucas Mesquita) é um despertar, um registro para que não podemos dizer de que não sabíamos de nada, que tudo foi ao acaso, converge com outros esforços cinematográficos recentes, sobre o Brasil e sua perda civilizatória, tragado pela onda neofascista, cafajeste, obscura que nos atingiu.

Vale a pena, ver, chorar e lutar.

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