Arnobio Rocha Crise 2.0 O Novo Estado é Neofascista.

1415: O Novo Estado é Neofascista.


A Violência do Neonazismo explode nos EUA,

“Da guerra ao cru motim silêncio e trégua:
Os vencedores e os vencidos folgam
Das nebulosas sombras circundados”.
(Paraíso Perdido – John Milton)

Pelo Whatsapp converso com um amigo judeu e ele está extremamente preocupado com a explosão da Extrema-Direita nos EUA. Meu amigo é um liberal, honesto e perspicaz, bom de debate, mesmo em espectro diferente do meu, claro que está muito longe do protótipo dos liberais brasileiros que se confundem com a Direita burra, não conhecem história, muito menos política.

Apenas respondi, com meu mantra dos últimos anos: “parece-me natural o que acontece, imagine que a economia está concentrada nas mãos de menos se 1% dos super-ricos, então como ter Democracia para controlar os outros 99%, desses, 80% beirando à miséria”? O fenômeno que vivemos não é novidade, ao contrário, parece uma repetição, como farsa.

O centro das questões, da conjuntura em que vivemos é entender o que houve em 2005/2008, a maior Crise de Superprodução de Kapital desde 1929. O que nos faltou foi a exata compreensão do conceito de Crise. O afastamento de Marx, mesmo pela esquerda ideológica, impede de ver o que efetivamente acontece no mundo, como se a Economia Política do Kapital tivesse se tornado transcendente e numa leitura bem próxima dos liberais, uma derrota teórica, que a crise de Superprodução os pegou de calças curtas.

A falta de polaridade parecia ter tornada o mundo uma via de mão única, como se o Capitalismo fosse o “fim da história”. Por mais de 15 anos, 1989 a 2004, essa lógica se manteve, porém, uma velha conhecida do Kapital, resolveu dá as caras de forma absolutamente forte, a Crise de Superprodução, com bem mais força do que uma simples crise cíclica da década de 1990.

Em 2005, TODOS os principais índices de riqueza eram positivos, o menor desemprego dos EUA, a recente fusão da UE, os salários em alta, as ações e o mercado imobiliário na estratosfera. A imensa nuvem de trilhões tinha incluído o centro do Capitalismo com seu poder de destruição, até mesmo os BRICS (África do Sul, China, Índia, Brasil e Rússia) foram incorporados à ciranda financeira mundial.

Tudo perfeito? Ao contrário, a força motriz do Kapital, a Taxa de Lucro, foi comprimida de forma imperdoável, então a crise, ‘a pletora do Kapital”, explodiu, mas seu efeito amplo só se sentiu plenamente em 2008, com a quebra dos principais bancos dos EUA e da Europa e das seguradoras. A fabulosa nuvem de trilhões provocou uma tempestade de proporções iguais à bomba atômica.

Essas crises (1871, 1929, 1974 e 2008) são paradigmática, pois são mais amplas do que as crises cíclicas, elas sinalizam que a forma de acumulação de Kapital precisa mudar radicalmente para que a Taxa de Lucro volte a crescer, não trabalho com tese de crise permanente, muito menos de o Kapital morrerá por si mesmo. Afasto-me dessas visões quase religiosas, nem um pouco marxista sobre o Kapital.

O Estado como centralizador do Kapital, que serve essencialmente à fração burguesa que determina a acumulação da riqueza, hoje liderado pelo Kapital Financeiro e sua pornográfica especulação, forma última de retomar cada centavo para si, transformando a vida da imensa maioria da população, num verdadeiro calvário pela sobrevivência material.

As consequências para os trabalhadores foram terríveis, o desemprego nos EUA teve seu auge em 2009 com o dobro de desempregados diante de 2005, a renda média dos trabalhadores e da classe média americana, uma boa parte dela com lastro nas hipotecas fantasiosas, teve perda superiores a 33%. Os gastos públicos para salvar os bancos não salvou a maioria da população, apenas migalhas. O programa de segurança alimentar (Food Stamps, uma espécie de Bolsa Família) aumentou de 30 milhões para 45 milhões de beneficiados, nos últimos 10 anos. Os números europeus são muito mais dramáticos, em especial para os jovens, pois em alguns países o desemprego para eles estão acima de 50%.

O velho Estado, dominado pelos banqueiros, fez a maior operação de salvação do Kapital da história, cerca de 40% do PIB dos EUA e quase 33% do PIB da UE é usado para injetar dinheiro nos bancos e segurar o sistema como um todo, a maior transferência de riquezas da história moderna. Os números são superlativos e ajudam a entender a razão de que apenas 8 PIBs depois, descontada a inflação, os EUA voltaram a ter um PIB positivo, ante 2005. A UE ainda patina e estaciona diante da riqueza produzida de 2007, que já não é mais alcançada.

Tudo isso acabou sendo o resultado da Crise a maior concentração da riqueza, como se isso fosse possível. A classe média americana foi esmagada, as suas hipotecas, que compunham significativa parte de sua renda, foram executadas, por anos o crédito “fácil” sumiu. Isso reflete diretamente no controle mais rígido do Estado. Isso impõe novos debates.

A Questão do Estado, Seu Controle e seu Papel.

A questão principal é sobre o caráter do ‘Novo” Estado que se impõe após a imensa Crise, que denomino Crise 2.0. Pelas minhas observações, esse novo Estado, vem sendo gestado desde meado dos anos de 1980 e ganhou impulso com a queda da antiga URSS.

Voltamos ao ponto: Qual o principal instrumento do Kapital para impor uma nova ordem? o Estado, que é a relação ampla do Kapital com a sociedade, seu padrão legal e aceito de regras impostas pela força e pelo convencimento superestrutural, ideológico, costumes, leis, educação e também de poder de recolhimento de impostos, intervenção econômica, que terá fim último para a fração burguesa dominante, desde os anos de 1970, o Capital Financeiro.

Ainda nos anos de 1980, as primeiras incursões de um novo modelo, como resposta à Crise de 1974, do Petróleo, já tomara corpo, o Neoliberalismo. Por mais de três décadas o mundo viveu ainda na disputa entre o Estado de Bem-Estar Social, fruto da Crise de 1929, com os elementos de Neoliberalismo.

Como também a disputa com o Estado Soviético, que nem era socialista, muito menos capitalista puro. Aliás, parte da ideia de Estado Gotham City, está liga à Perestroika e Glasnot, o que gerou uma China autoritária ou um regime de Putin, o eterno.

A queda do Muro de Berlin e a queda do muro de Wall Street, liberou todas as forças possíveis para esse novo Estado, que denomino como sendo Estado Gotham City. Ele se diferencia fundamentalmente de um Estado de Exceção clássico, como o fenômeno do nazi-fascismo porque ele não é uma simples exceção do regime vigente, ao contrário, ele se imporá como ordem comum e permanente.

O que verificamos, desde pelo menos 2012 com nossos estudos sobre a Crise 2.0, que está no nosso livro  Crise Dois Ponto Zero – A Taxa de Lucro Reloaded., é que esse novo Estado ele vem corroendo as bases da sociedade burguesa, especialmente as coisas que mais a distinguia: A  Democracia e da Política. O que nasce são regimes autoritários, com simulacros de Democracia e quase ausência de Política.

Um dado importante nessa análise é que as “Primaveras Digitais” vieram a ser peça fundamental para essa nova ordem sem Democracia e Política. Elas chancelaram todas as visões do Kapital que na necessidade de recompor sua Taxa de Lucro, rompeu com o que sobrou do Estado de Bem-Estar Social, cortando Direitos Sociais, Aposentadorias, Saúde e Educação, em nome de uma Austeridade para quem?

Para fazer a transfusão de recursos dos tesouros públicos para os bancos privados, de forma direta ou através de privatizações, entrega das funções do Estado para entes privados, de forma ampla, atingindo judiciário, segurança, mais ainda na burocracia, especialmente as famigeradas Agências, que minaram as funções do Estado e entregam e agem em nome do Kapital, sem meias palavras.

Portanto, a ordem legal, é a de restrições, o Direito é do inimigo, aplicado diretamente contra quem se opuser aos novos senhores do Estado, quer seja Obama ou Trump, pode ser Putin ou um burocrata chinês, passando até na ralé do Golpe local, o golpista-menor, Temer. O mundo assistiu ao Brexit, a Direita vs Extrema-Direita, na França, ou a pressão pela saída da Itália da UE. Alguma surpresa com o quarto mandato da Sra Merkel, ou de que a extrema-direita nazista é a terceira força na Alemanha, aquela mesma de Hitler, a história se repetindo como farsa.

O surgimento de movimentos abertamente nazistas, sem nenhuma máscara, nos EUA é o reflexo do maior recrudescimento dessa realidade. O Estado serve a uma minoria restrita, a classe média esmagada pela crise, serve de base social a esse tipo de movimento. O que lembra muito a classe média verde-amarela, na Paulista, com a mesma ideologia neofascista, contra o Estado, quase um suicídio, pois menos estado significa menos democracia e menos direito.

São movimentos combinados de uma ampla ruptura, não um Estado de Exceção, apontam para uma nova ordem, cruel, restritiva e de profunda violência, com uma possibilidade permanente de guerras regionais, civis e de embates violentos nas grandes cidades, pela miséria e fome.

A Política do Medo, Segurança nos países ricos, Corrupção nos países pobres, será o elemento principal de convencimento para que se abra mão das mínimas garantias legais e democráticas.

Aqueles super-ricos, 1% da população, se armaram de todos os instrumentos legais, de dominação, de convencimento ideológico, com uso massivo da Internet, o que tolamente achávamos que ampliaria a participação, os algoritmos se tornaram a arma letal para saber quem somos, o que fazemos, o que pensamos, assim, o controle é mais forte, violento e amplificado. Eles sabem o que fizemos no verão passado.

A realidade é sombria, mas o debate continua travado, as nossas milhões de demandas impedem de ouvir e falar, tudo controlado, ninguém quer ousar nada. Aceitamos nossa escravidão e criticamos quem se expõe.

As contradições se espalham, mas nos fechamos para elas.

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