Arnobio Rocha Política O pós-muro e o pós-moro.

1331: O pós-muro e o pós-moro.


O que Fazer? Paciência e paciência.

O que Fazer? Paciência e paciência.

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. ( O 18 Brumário de Luís Bonaparte – Marx)

Ouvindo em looping, Etta James (I’d Rather be blind), a poesia toca a alma e os olhos marejados e sentindo-me meio perdido nos acordes, um pensamento me assombra: o meu mundo voltou ao ano de 1989?(1989, É Para Sempre?)…A reconstrução da utopia e dos sonhos é um fato da vida, pena que  hoje não tenho mais os mesmos 20 anos de antanho.

Nada se compara, entre essas épocas, mas guardam tantas coincidências e dores tão fortes. A Direita não vacila nunca, é bem certo que pode demorar setenta anos lá, ou em treze anos aqui, mas ela está sempre à espreita. A espera do momento certo de dar um golpe fatal, aproveita de todos os erros, grandes ou pequenos, se prepara com paciência histórica (como isso nos falta) e executa com maestria a tarefa.

O que nos restará? Vamos seguir em frente?

Os anos seguintes à queda do muro de Berlim foram estranhos, de um lado, a euforia dos trotskistas, com sua certeza de que a nova revolução estava em marcha, que Trotsky voltaria ao Kremlin. Por outro lado, o Kapital estava em festa, fim da história, era o mínimo, não restava saída fora do capitalismo, a retomada do leste era certa, simbolizada pela refundação alemã.

(A ironia é que temos um quadro tão parecido de herdeiros, do pós-moro, com todas as certezas e as arrogâncias, até o retrocesso histórico, o estado de exceção se completam, a ver.)

Como sobrevivência, resolvi me dedicar intensamente aos estudos, literatura clássica, buscar conhecer o máximo que conseguisse o que os principais autores da humanidade tinha nos legado. Alimentar minha alma atormentada pela conjuntura política tão hostil. Grupos de estudos que leria e debateria as grandes obras literária(sem que efetivamente funcionassem), também para discutir O Capital, que não foi em frente.

Tudo aquilo foi fundamental para minha vida, para minha formação intelectual e humana, o que me parece será novamente o meu caminho, talvez hoje, não lendo, mas quem sabe produzindo, escrevendo, publicando, como forma de contribuir para um novo futuro, com a paciência e a confiança de que uma nova geração bem melhor está chegando e será mais competente do que a nossa.

É isso, por enquanto.

Etta James – I’d Rather Be Blind (Live at Montreux 1975)

 

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