Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: França

331: Crise 2.0: França

 

Montagem da AFP

 

Quem acompanha esta longa série da Crise 2.0, sabe do desprezo que tenho pelo Presidente francês Sarkozy, que no fundo não passa de um pau mandado da Chanceler Merkel. Em todos os momentos desta crise, Sarkozy é usado pela Alemanha como intermediário, às vezes porta-voz, de seus interesses, atrelou o destino da França ao que melhor convier ao gigante do Euro, virou um sócio minoritário, negociando uma queda menor, mesmo vendo a desgraça dos demais parceiros.

 

As eleições francesas traz um debate importante do conceito de nação, principalmente, independente, as fronteiras europeias não se dissolveram com União Europeia, muitos dos acordos firmados nos últimos 50 anos, desde Roma, o mais concreto foi a adoção do Euro. As bases para esta moeda foram dadas em patamares muito alto, o padrão tomado foi o alemão, a mais rica economia, com o dinheiro farto, pouco se pensou em como equalizar as diferenças, os países mais pobres, se endividaram rapidamente, incentivados a ter, artificialmente, o poder de compra alemão. Porém, sem ter o padrão produtivo alemão.

 

Ainda antes da Crise afetar a Zona do Euro, os desequilíbrios já eram percebidos a olhos nus, a Alemanha, fez imensas reformas internas durante o Governo Social-democrata de Schroeder, depois de passar pela unificação com a parte leste, a grande flexibilização do mercado de trabalho combinado já com excelente padrão tecnológico, tornou o país o motor e centro da Europa. Mas a hegemonia política só veio, efetivamente, com a ambiciosa Chanceler, da Direita, Angela Merkel. Ocupando os espaços como o grande fornecedor da Zona do Euro, com ampla base produtiva e imensos superávits comerciais, em pouco mais de 10 anos, a Alemanha se tornou “dona” do pedaço.

 

Com o início da crise, Merkel começou a dar as cartas políticas, sua ortodoxia e senso de oportunidade, fez com que os demais países se submetessem à lógica alemã. O país se tornou a referência para Europa, sua mazelas internas, são convenientemente esquecidas, o que apresenta é a Força Alemã. Merkel estrategicamente traz para ser seu sócio menor, Sarkozy, dando a impressão de parceria, no fundo apenas criando uma hierarquia bem definida na UE. No topo a Alemanha, no segundo plano França, mais alguns países menor, mas sem grandes crises como Holanda, Filândia. Aí o terceiro grupo de países “problemáticos”: Espanha, Itália e Portugal. Por fim os indesejados, com a Grécia à frente. Pode ser uma mera coincidência mas o grupo gestor, todos são governos de Direita.

 

Coube a Sarkozy aceitar passivamente esta situação, pois a França ainda é, mesmo decadente, a segunda economia europeia, mas a cada vez mais se distância da Alemanha. Os bancos franceses, os verdadeiros tutores de Sarkozy, o obrigaram a ser personagem secundário, afinal boa parte da farra do euro, foi feita por bancos franceses e alemães. como sintetizou Celso Ming em sua coluna de ontem, qual legado do Presidente Francês:

“Sarkozy, o atual presidente, tem contra si o passivo da crise, especialmente a dívida da França que saltou dos 64% do PIB em 2007 para os atuais 83% do PIB; mais o rebaixamento da qualidade e forte ameaça de rejeição dos títulos do Tesouro da França, o que dificulta a rolagem dessa dívida; uma economia estagnada; indústria sob grave esvaziamento; e desemprego no recorde dos 10% da população ativa”.

Apesar do fracasso geral, ele ainda chegou em condições de ir ao segundo turno das eleições francesas.

 

O próprio Celso Ming parece desesperado, pois o candidato de sua simpatia não tem solução para crise: “O projeto para sair desta crise do sempre elétrico Sarkozy não vai muito além da meia solução que está sendo montada pelos atuais líderes do bloco do euro, com a diferença de que, nas últimas semanas, Sarkozy vem reivindicando passo importante em direção à heterodoxia monetária. Apesar do claro veto alemão, quer que o Banco Central Europeu (BCE) passe a usar suas impressoras de euros para financiar Estados superendividados, como a própria a França”.

 

Ou seja, sua esperança é que sempre a Alemanha vete qualquer mudança de rumo, ou de paradigma neoliberal. Lógico que o velho colunista desanca o candidato socialista: “A campanha de Hollande é de hostilidade a tudo o que está aí, mas é gritante a falta de proposta sobre o que colocar no lugar. Resume-se a dizer não à austeridade orçamentária; a culpar o sistema financeiro e os excessivamente folgados bancos, responsáveis pelas lambanças; e a cobrar mais impostos dos mais ricos, para garantir mais recursos a projetos destinados a tirar a economia da entalada e criar mais empregos”.

Ruim com Sarkô, pior sem ele, assim concluí a leitura.

 

É fato, nenhuma proposta de ruptura é apresentada por Hollande, em parte lembra a campanha de Rajoy, que venceu as eleições espanholas “contra tudo que está aí”, sem demonstrar seus planos, e quando os apresentou é um evidente retrocesso, cruel ao povo espanhol. Óbvio que a matiz de ambos são distintas, mas a situação de crise não pode se sustentar em plataformas vagas, cerca de 45 antes do pleito a vantagem de Hollande era de 10 pontos, reduziu-se a 1,5%, muito pouco, para uma possível vitória no segundo turno.

 

Talvez uma chance de um choque mais direto entre os dois principais candidatos, abra uma chance de sair um projeto de ruptura, pelo menos é o que se espera de Hollande. A excepcional votação tanto da extrema-direita, como da Extrema-esquerda, é um claro sinal de que o projeto da UE está em xeque. Os 30% de votos dos extremistas, maior parte deles na juventude, onde há também o maior desemprego e desesperança, é um indicador de que as meias medidas estão se esgotando.

 

Ao contrário daqui, a extrema-esquerda deve apoiar o PS, contra Sarkozy, o ótimo desempenho de Mélechon, e do próprio PCF, dá uma chance de que Hollande vença as eleições em 6 de maio. Mas, por outro lado, o reforço que receberá Sarkozy não deve ser desprezado. A única certeza, é hora da França rever sua identidade, a passividade diante de sua decadência, não é própria do país.

 

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0 thoughts on “331: Crise 2.0: França”

  1. Nossa, caiu tanto assim a estimativa de vitória do Hollande? Então tá tudo perdido mesmo, é claro que a extrema-direita também vai pra Sarkozy. Eita França…

  2. Olá, Arnóbio!
    Agora ele terá apoio maciço dos “investidores” que, com Hollande, perderão território. Ainda que Hollande tenha citado medidas de protecionismo, o que não favoreceria o Brasil, ele ainda é preferível por ideias estarem mais alinhadas às brasileiras, que não passam pela adoção de política neoliberal nas crises.
    Allez le Hollande!
    Abraços

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