
“Quando o apito
Da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você”
(Três apitos – Noel Rosa)
A poesia de Noel Rosa do começo do século XX, trazia amor, crítica social, a obediência e disciplina fabril, época de grandes concentração de mão de obra, a indústria têxtil, predominava naquele início de século, ainda no incipiente capitalismo brasileiro, sendo depois substituído pela indústria automobilística, a nova força motriz do Capital, que foi fundamental para o desenvolvimento do Brasil e do mundo. A mão de obra braçal foi dando lugar à robotizada, no final do século e neste novo, alguns decretaram a morte do proletariado fabril.
Uma nova indústria e uma nova e sofisticada produção de valor surge com mais avançada revolução industrial, baseada numa mão de obra intelectual, em baixa escala, mas de alta capacidade produtiva, assim como a nova força industrial se estabelece com a microeletrônica e a engenharia de software, arquitetura de sistemas, algoritmos e miniaturização de produtos, modernos sistemas de comunicação, celulares e Internet, criaram novos paradigmas e costumes, inclusive, novas subjetividades e consumo.
As exigências de produtos e saltos de produção e desenvolvimento, que teve uma famosa equação de que a cada 18 meses aumentaria a capacidade de armazenamento de informações e velocidade de acesso à elas, está sendo quebrada de forma inédita na historia da humanidade.
A que custo?
Ora, se as revoluções industriais e de mercados, levaram século, depois décadas, a atual se transforma em anos, aqueloutra fez estragos no planeta, a destruição de florestas, devastação de biomas e poluição com emissão de gases que ameaçam a vida na terra, o aquecimento global se tornou a maior da emergências humanas, inclusive, a sua própria existência, basta saber que 3/4 da concentração humana está em regiões litorâneas e o aumento da temperatura causa degelo o que pode rapidamente trazer catástrofes à essas regiões.
A nova indústria, ao contrário do que pensava e vendia, não tem compromisso com o meio ambiente e a necessidade massiva de energia para sustentar imensos data center, torna dramática essa equação. O Professor Dr Sérgio Amadeu alerta para o aumento acelerado de energia é uma tragédia anunciada ao meio ambiente, a Inteligência Artificial exige cada vez maiores e mais poderosos centros de processamentos, além de toda à infraestrutura necessária, é quase uma volta à produção fabril de concentração produtiva, com menor participação humana, mas os parâmetros são os mesmos.
Os sensíveis hardwares que compõem data center exigem temperatura baixa mantida por máquinas poderosas de ar condicionado que consumem mais e mais energias e aumento de gases para atmosfera. Numa palestra o Professor Sérgio Amadeu mostra uma “cidade” de data center e as chaminés à todo vapor.
As big techs (Google, Microsoft, Apple, Amazon, Tesla) numa concorrência desenfreada estão investindo pesado na construção de novos data centers e demanda enérgica é um dos gargalos, alguns cogitam montar usinas nucleares para alimentar suas “fábricas”, qual o limite? Segundo, Dr Sérgio, ano passado os data centers consumiram energia equivalente ao Japão inteiro. E o crescimento é exponencial.
A ultra modernidade não trouxe melhor distribuição de renda, ao contrário, criou um punhado de trilionários nem um pouco preocupados com o destino da humanidade, a emergência climática é absolutamente secundarizada pelas big techs, afinal o que não muda no capital é sua essência, a busca pelo santo gral, o Lucro!
Recomendo fortemente ouvir Sérgio Amadeu, Alexandre Costa (sobre urgência climática), Miguel Nicolelis, gente que não é apenas gênio em suas áreas, mas defendem a humanidade em toda sua extensão.
“Você que atende ao apito
De uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito, tão aflito
Da buzina do meu carro?”