Maria Luiza chega aos 80 anos, ela que é uma das mais extraordinárias mulheres do Brasil, foi a primeira prefeita eleita de uma capital, 1985, pelo PT. Acompanhei a emocionante acolhida das companheiras e companheiros que foram comemorar o aniversário dela e de sua trajetória política tão rica.
É uma honra, de longe, registrar esse momento simples e tão digno, dessa figura ímpar da história da esquerda cearense e brasileira, que tanto nos ensinou como as mulheres devem ser protagonistas das lutas políticas e sociais, sua garra e sensibilidade política é um exemplo de conduta política.
O quer me fez voltar no tempo, há 37 anos, na periferia de Fortaleza, eu era muito jovem e de longa cabeleireira, assisti encantado aquela mulher de largo sorriso, fraterna e humana, numa carroceria de um caminhão discursando para as pessoas e vindo nos abraçar, algo tão diferente para todos nós.
Naquele dia, ela perdeu a sandália descendo do caminhão e eu encontrei, como por magia. Apenas ela acreditava piamente que seria prefeita, e foi, desafiando a lógica, os prognósticos e pesquisas.
A vitória inesperada, a inexperiência do PT, de suas correntes internas, as lutas políticas que refletiam os conceitos de disputa pela hegemonia política da sociedade e os limites de uma administração pública. Todas e todos amadurecemos com os enfrentamentos da luta de classes em Fortaleza, numa gestão marcada pelas renhidas batalhas de ruas.
Mudei para São Paulo em 1989, Maria Luiza tinha deixado a prefeitura de cabeça erguida, o pequeno grupo político que ela participava, com quadros importantes como Rosa Fonseca, Jorge Paiva, derivou para negação dos partidos e da institucionalidade, desencanto pelos processos políticos e por utópica emancipação humana, sem luta de classes.
A despeito dessas divergências, Maria Luiza, Rosa Fonseca, Célia Zanetti, Sandra Helena, trouxeram para o centro das lutas, o protagonismo feminino, o que dignifica Fortaleza como vanguarda do feminismo, Luiziane Lins (de minha geração) foi prefeita por 8 anos no início desse século, não custa lembrar de Bárbara de Alencar e Jovita Feitosa.
Por uma boa coincidência da vida, estou em Fortaleza, e é uma viagem no tempo. Volto a encontrá-la, hoje, com olhos marejados, vejo Maria Luiza, linda e firme, uma personagem única e poderosa, exemplo mulher e vida de luta, esperança e amor à vida.
Parabéns, minha querida companheira Maria Luiza Fontenele.
essa “…longa cabeleira…” ninguém vai acreditar, né?