“Agora eu já sei, da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver”
(Wave – Tom Jobim)
Dias de batalhas dentro do Direito (trabalho), nos poucos momentos de “liberdade”, ouço velhos clássicos de música brasileira e jazz. O que me invade é um sentimento de melancolia, de saudades, daquelas que você nem sabe bem do que é, ou do que seja, apenas existe, naquele que é um dos mais abstratos e complexos sentimentos humanos, o sentir ausência, de algo, de alguém.
A inquietação sempre me toma, em tantos momentos da vida, não imaginava que isso se daria aos 50, mas parece que não vou parar de sentir a sensação da adrenalina, da necessidade de fazer alguma coisa, ou que preciso realizar algo mais. Impossível apenas ficar quieto, contemplar, isso não é para mim. Por toda minha trajetória é um eterno movimento, ir, sair, buscar, revirar.
Aparentemente são dois sentimentos oposto, Melancolia vs Inquietação, entretanto, penso que sou a síntese dos dois, ou que eles se complementam, um ocupa o silêncio do outro. A inquietação leva ao ciclomotor, o que resulta no cansaço, a melancolia vem para preencher o descanso, o pensar, o elaborar, serve para despertar e começar um novo ciclo, quase um Sísifo, descansar é carregar pedras.
As fases da vida também nos moldam para ir de um sentimento ao outro, ocupando os espaços com novas coisas que darão o real sentido do que estamos a viver, e combinar a melancolia e a inquietação.
Ora, por anos, a leitura fazia a ponte entre os dois lado, lia freneticamente e, ao final, a melancolia aparecia, para remoer as ideias aprendidas naqueles livros, teses, ideias, era justa combinação.
Em outro instante, escrever, elaborar, primeiro na mente, depois transpor ao papel, ou aqui, digitando, causa a euforia, o tesão de realizar, o enorme prazer de ver saltar letra em letra, palavra por palavra, até o instante final, em que se completa a ideia, bate à porta, a nossa companhia, a melancolia, a dúvida que me assalta, para quê ou para quem serviria o que escrevi?
Assim, as duas ideias, sentimentos, vão me levando, de porto em porto.
Tem que aproveitar essa energia, povo na rua!
Mari,
Sou coordenador de Ações Emergenciais da Comissão de DH da OAB/SP, estou praticamente TODOS os dias nas ruas, na luta.