Arnobio Rocha Reflexões Inquietação e Melancolia

1557: Inquietação e Melancolia


Um mar revolto, as ideias e depois a maré que seca.

“Agora eu já sei, da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver”
(Wave – Tom Jobim)

Dias de batalhas dentro do Direito (trabalho), nos poucos momentos de “liberdade”, ouço velhos clássicos de música brasileira e jazz. O que me invade é um sentimento de melancolia, de saudades, daquelas que você nem sabe bem do que é, ou do que seja, apenas existe, naquele que é um dos mais abstratos e complexos sentimentos humanos, o sentir ausência, de algo, de alguém.

A inquietação sempre me toma, em tantos momentos da vida, não imaginava que isso se daria aos 50, mas parece que não vou parar de sentir a sensação da adrenalina, da necessidade de fazer alguma coisa, ou que preciso realizar algo mais. Impossível apenas ficar quieto, contemplar, isso não é para mim. Por toda minha trajetória é um eterno movimento, ir, sair, buscar, revirar.

Aparentemente são dois sentimentos oposto, Melancolia vs Inquietação, entretanto, penso que sou a síntese dos dois, ou que eles se complementam, um ocupa o silêncio do outro. A inquietação leva ao ciclomotor, o que resulta no cansaço, a melancolia vem para preencher o descanso, o pensar, o elaborar, serve para despertar e começar um novo ciclo, quase um Sísifo, descansar é carregar pedras.

As fases da vida também nos moldam para ir de um sentimento ao outro, ocupando os espaços com novas coisas que darão o real sentido do que estamos a viver, e combinar a melancolia e a inquietação.

Ora, por anos, a leitura fazia a ponte entre os dois lado, lia freneticamente e, ao final, a melancolia aparecia, para remoer as ideias aprendidas naqueles livros, teses, ideias, era justa combinação.

Em outro instante, escrever, elaborar, primeiro na mente, depois transpor ao papel, ou aqui, digitando, causa a euforia, o tesão de realizar, o enorme prazer de ver saltar letra em letra, palavra por palavra, até o instante final, em que se completa a ideia, bate à porta, a nossa companhia, a melancolia, a dúvida que me assalta, para quê ou para quem serviria o que escrevi?

Assim, as duas ideias, sentimentos, vão me levando, de porto em porto.

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