Arnobio Rocha Filmes&Músicas O Homem de Sorte

1710: O Homem de Sorte


Orgulho, obstinação, subir e cair por obra do que somos.

Essa noite vi um grandioso filme, “Um homem de Sorte” (Lykke – Per) (Netflix), de Bille August, que retrata a Dinamarca do século XIX, rural, pobre e atrasada.

Imediatamente me veio uma série de questionamentos sobre mim mesmo, minha trajetória, meus conflitos, minha personalidade errática, orgulho e vaidade, as conquistas e as quedas, como se relacionam com nossas forças/fraquezas internas.

A janela da vida nem sempre é para uma bela paisagem ou não compreendemos o que vemos ao abrir a cortina

A sobrevivência individual encontra soluções da mais variadas, quase sempre ligadas aos vícios, raramente à virtudes, pois, afinal, somos humanos, sujeitos de defeitos, o que nos torna sempre apaixonantes, não por comiseração, mas porque somos surpreendentes, mesmo nas piores situações.

Nenhum algoritmo (lembremos que ele são desenhados por um arquiteto de software, ou seja um humano) por mais poderoso computador consegue atingir os raios criativos do cérebro humano, pois apenas nós conseguimos pensar o impensável, o impossível.

Entre os escapes para sobreviver há desde drogas, desde álcool às drogas sintéticas, ou as  produzidas pela natureza, passando por jogos, dos mais variados, sexo, chocolate, religião, ideologias. Qualquer sorte de estratégia é usada para evitar uma queda, parece instintivo e, é.

De todas as coisas que me fizeram seguir até aqui, a maior é a literatura. No passado era leitura, depois, de uns 10 anos para cá, é escrever, o tema vem do nada, mas vem todo, é só transpor para qualquer lugar, os textos veem à mente num bloco só, uma enxurrada, todo organizado, mesmo com erros, eles estão ali prontos para vir para esse espaço ou outros.

A sensação é de alívio, descarregar os sentimentos, bons ou ruins.

Daí vem a minha imensa dificuldade para escrever sob demanda, texto que alguém pede (ah, é fácil para você). Porém uma obrigação, uma necessidade, muda o sentido, é óbvio que faço o que tem ser feito: notas, manifestos, artigos, comunicados, ofícios, petições, o sentimento é diverso do escrever livre.

Essa é a diferença entre prazer e a dor, aquilo que é natural daquilo que é imposto pela vida real, a separação entre o real e a fantasia. Talvez se tivesse um talento real (para vida material), o outro seria somente a liberdade de criar, ainda com todas as limitações do (ausência) talento.

É só mais um fim de domingo em que vem esse sentimento, talvez inspirado no duro filme, a representação da comunidade cristã conservadora, cheia de dogmas e que não dialogava com outros cultos, em especial a sofisticada e progressista comunidade judaica.

A minha viagem é essa, a de hoje.

Belo filme, o orgulho como obstinação e desgraça.

Imperdível.

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