Arnobio Rocha Diário de Redenção Sutilezas da Ausência

1605: Sutilezas da Ausência


Ocaso do domingo, do amor e da vida…

Há pequenas coisas da vida e do cotidiano que se tornam gigantes, quando da ausência, nessa imensa falta que a Letícia me faz, principalmente pela maturidade intelectual que ela tinha atingido, os gostos bem definidos, a capacidade de pensar e discutir, temas mais complexos, tudo nos aproximava muito.

Outro dia contei sobre alguns “detalhes” da casa e como ela os preenchia, e que viraram um vazio sem ela, o sofrer provocado, por exemplo, ao olhar uma cadeira em que ela se sentava, ou a poltrona do sofá, quem sabe a roupa que ela se vestia para ficar vendo TV ao meu lado, o filme que escolhia para vermos, num dia qualquer, que silenciosamente curtíamos.

A Letícia pesquisava os filmes e as séries, suas sequências, quando estreariam, as especulações sobre cada personagem, as mudanças dessas histórias. Suas descobertas, logo me passava com tanta felicidade, muitas eu já sabia, mas não estragava a surpresa e seus os olhos brilhantes em trazer novidades, o prazer de contar algo que era de gosto comum.

Nós não mudaremos a roda do tempo, ao contrário, ele é implacável conosco, o relógio vai nos espancando, só nos restando essas sutis lembranças, que compõem uma linda história de amor eterna, que diz respeito a ela, a mim, microscopia ao mundo, aos bilhões, eventualmente conhecida, ou vista de longe

A relação de pai e filha, por nós vivida com toda intensidade, com toda emoção, em que algo secundário, hoje se multiplica e fica grande ao lembrar. Tudo isso destruído por uma morte estúpida, que não nos permite conectar com o que passou.

É escrever em prantos, as letras se embaraçam, pelos olhos embaçados, apenas a digitação incerta, desesperada, na tola esperança de que ao final, toque o fone e seja ela que me ligue, ou bata à porta e apenas diga que me ama.

Quanta tragédia e dor, quanto amor perdido, qual o sentido de se manter? O que é viver sem ela, para quê?

Dedico as palavras às nossas sutilezas e nossa delicada sintonia…

https://www.youtube.com/watch?v=yYDh7lyqwms
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