Arnobio Rocha Política Relatos Selvagens – Paraisópolis

Relatos Selvagens – Paraisópolis


Paraisópolis uma luta permanente contra as mortes nas quebradas.

Não adianta querer, tem que ser, tem que pá
O mundo é diferente da ponte pra cá
Não adianta querer ser, tem que ter pra trocar
O mundo é diferente da ponte pra cá.
(Da ponte para cá – Racionais mc´s)

O clima está muito tenso em Paraisópolis, as vielas estão nervosas, há um medo no ar, os rostos são fechados, ninguém sorrir, a desconfiança é geral sobre todos os que chegam, com carros que não são da quebrada, um cara engravatado numa tarde de sexta, nós, os forasteiros, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, que vão num lugar em que Direitos Humanos, não passam de uma vaga ideia.

Democracia então, é uma palavra vazia, que só se preenche no dia de eleição, com cada vez menos interesse ou esperança de que traga mudanças;

Estar em Paraisópolis nessa, tarde e noite de uma sexta, é uma dádiva nesse tempos sombrios, aquela gente, esquecida pelo poder público, vira mero objeto desejo por imagens de tvs e jornais, sem que eles efetivamente possam dizer quem são, o que fazem e como vivem, nos extremos de uma sociedade excludente.

Repito na mente, morro de medo de gente que tem medo de ir às quebradas.

O objetivo era uma reunião sobre os desdobramentos da tragédia, ouvir as pessoas, familiares, mas recebemos uma justa cobrança, sem meias palavras, a porrada, primeiro se estamos mesmo com eles ou se é só para aparecer na mídia? Depois um cruzado, de que não fazemos nada, por ninguém, que os bacanas não punham o pé na lama, só estava de gravata.

A comunidade, seus líderes, estão, com justiça, bem radicalizados, não querem conversa mole, “procedê” de doutor, querem respostas, por que nos matam? Quantos mais morrerão para mudar alguma coisa? Dr qual a certeza que saberemos que os responsáveis serão punido?

É uma aula de civilização, que desafia nossa lógica branca e classe média, que finge que não vê a tragédia do outro lado muro, quase um muro de Berlim, separando o mesmo Morumbi, das mansões e casa belas, do outro lado, os amontados, a ruas que mal passam dois carros, com o povo andando na rua por não ter calçadas, o completo abandono do Estado, a ausência de poder público.

A lição de como a exclusão está ali, tão perto, com realidades tão distantes, aqueles garotos inteligentes, que dizem que o celular é nossa arma, filmar o mal que nos atinge, “nossa prova”, mas também como nos mandamos “a real” para os manos, para chamar os manos para o mundo real e lutar.

A volta é dolorida, penso no texto e contexto, o que faremos depois? Esse povo merece não palavras bonitas, mas respostas, dignidade e felicidade um baile funk ou de uma roda de samba, não chorar seus filhos mortos, presos, criminalizados.

Não há conforto depois que saímos da famigerado zona de conforto.

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