Arnobio Rocha Estado Gotham City A Importância da Resistência Política e da Democracia.

1565: A Importância da Resistência Política e da Democracia.


A Resistência Política é a única saída nessa época de trevas.

“Tão sábio ele é que persuadido se acha
Que o tudo só consiste em valeroso
Do castigo escapar, fugir da pena,
Seja o modo qual for para isso usado!
Vai, presunçoso, vai assim pensando”
(Paraíso Perdido – John Milton)

Robert Kurz publicou o livro “O Colapso da Modernização”, iniciando assim uma nova abordagem de Marx, com uma visão crítica das sociedades do leste, sem aceitar o fim da história, que ganhava corpo no mundo, no início do anos de 1990, a tese de Fukuyama. Décadas depois, a questão do fim da história, agora apresentada sob a ótica do fim da Democracia e da Política, que denominam de pós-verdade, pós-democracia, pós-tudo.

Os ventos das primaveras árabes, digitais, occupies, de que a internet substituiria as ruas, ou, por outra, ela definiria os desejos dos que ia para as ruas, sem precisar mais de mediações das forças tradicionais, como os partidos, sindicatos, sociedade civil, acreditavam que não precisariam mais de eleições ou democracia representativa, tudo se resolveria no mundo virtual e imediatamente.

Alguns pressupostos pareciam dar razão àquele movimentos, que teve seu início no Brasil, nas jornadas de junho de 2013, mais de dois anos depois de iniciado no norte da África, indo à Europa e EUA. O que representa uma reação à dura realidade material da vida humana, com uma constante queda no padrão de vida, ausência do estado, violência e insegurança pública e medo de não ter emprego e/ou o ter o que comer.

Essa combinação explosiva de doenças com empobrecimento, incertezas com o futuro, sem que haja nenhuma ação do Estado, gera um amplo questionamento sobre a riqueza imensa gerada de um lado, enquanto,ao mesmo tempo, há a diminuição da renda, sem repartição dessa riqueza.

Sobra aos trabalhadores e ao povo em geral, apenas a miséria, o subemprego, a uberização da vida, a desagregação social, com governos que não gestam políticas públicas, pois a burocracia perene, imposta pelo Kapital, impede qualquer iniciativa que mude o status quo, garantido os ganhos dos mais ricos e abastados.

Em novembro de 2013, o filósofo italiano, Giorgio Agamben, numa palestra em Atenas, anunciou que era estranho estar ali, no berço da Democracia ocidental, para dizer que não sabe mais se na Europa e nos EUA, como em boa parte do mundo, se o que se pratica é Democracia e se ainda existe política. A provocação é pouco respondida, ou quase sempre com slogans, como. pós-verdade, pós-democracia, sem ir ao âmago da proposição.

Por caminhos diferentes, chegamos ao mesmo ponto: O novo Estado tem como fim a destruição da Democracia e da Política, ainda que a forma não seja explícita, mas todas as ações são para consignar esse objetivo. Sob meu ponto de vista, a razão é a impossibilidade de conseguir pacificamente um novo arranjo de classe para que se inicie um amplo ciclo de expansão do Kapital.

Ora, numa época obscura, as forças mais conservadoras do Kapital lançam mãos de todas as armas para recompor suas taxas de lucro históricas, força vital de sua própria sobrevivência, como classe e para além dela, seu sistema econômico. A luta no âmbito da economia tem sua arena ideológica na sociedade, no estado e na sua expressão mais visível, a política.

As variadas táticas de desmoralização da função política está intimamente ligada às modificações no tipo de Estado, morrendo o de Bem-estar Social e a imposição do neoliberalismo, numa fase ultraliberal, em que a liberdade do econômica é proporcional à diminuição das liberdades políticas, sociais, de costumes e de credo. Não se estranha tantos comportamentos medievais, como terraplanistas, apego às crenças mais retrógradas religiosas.

Outra questão complexa é que parte da esquerda mergulhou na onda das primaveras, no abandono de um método do análise do Kapital, em nome de liberdades, que em muito se confunde com a própria política da fração burgues que controla a economia. Esse fenômeno se verificou em grande medida com o endeusamento do ativismo digital, como se surgisse um novo sujeito da revolução, uma completa incompreensão de como se reproduz o Kapital.

Nesse sentido, a apatia geral, ou desprezo pela Política e pela Democracia, foi assimilada como forma de contestação, quando na verdade, apenas o grande Kapital é beneficiado com esse estado de coisas, aos trabalhadores, as camada médias urbanas e ao povo em geral, menos política e menos democracia, significam menos capacidade de contraposição ao sistema, exatamente o oposto do que virou moda.

É essa a complexidade do mundo, não de um país apenas, mas da globalização de ideias e de tendências, quer sejam  das formas de exploração econômica, quer seja de tornar irrelevante à política, ou mesmo de costumes (criminalização em geral às drogas, aborto, diversidade sexual e religiosa).

Apenas a pequena resistência, ainda que isoladas, podem reconduzir ao centro do debate as lutas emancipatórias e de liberdades humanas, como saída civilizatória contra barbárie.

Não outro caminho, que não a luta.

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