Arnobio Rocha Crise 2.0 Crise 2.0: Espanha – Fim da Crise(?), Começo da Miséria!

Crise 2.0: Espanha – Fim da Crise(?), Começo da Miséria!

 

Bankia "torto" uma metáfora da Espanha - Foto do Wikipedia

A cronologia destes exatos 30 dias que abalaram a Espanha estão descritos aqui na série sobre a  Crise 2.0, o início deste processo de recrudescimento da Crise, se deu com o resgate do 4º maior banco do país, o Bankia. Este banco já tinha sido recapitalizado pelo governo do PSOE, de Zapatero, com uma ajuda de 4,5 bilhões de Euros, ainda em 2010, aqui a sequência de posts contando esta crise dentro da crise:

  1. Crise 2.0: Espanha submissa
  2. Crise 2.0: Espanha – A Nau da Insensatez
  3. Crise 2.0: Espanha em Luta
  4. Crise 2.0: Estresse na Espanha
  5. Crise 2.0: Espanha – Resgate ou Queda
  6. Crise 2.0: A “Sangria” da Espanha
  7. Crise 2.0: Espanha, como salvar os banqueiros
  8. Crise 2.0: O Resgate Light da Espanha
  9. Crise 2.0: Operação Resgate da Espanha

São estes os passos que ajudam a compreender dia a dia o estresse final, que redundou na operação “resgate” aos banqueiros, feitas pela UE.

 

Mas é preciso também conhecer o caso do Bankia nos seus detalhes sórdidos, assim, entende-se os demais. Depois deste resgate, o Bankia, passa a ser dirigido por um dos mais proeminentes burocratas da direita espanhola: Rodrigo Rato, ex-Diretor-chefe do FMI(2004 à 2007), Vice-Presidente Espanhol e Ministro da Economia, durante o famigerado Governo Aznar. Economista renomado, ao invés de ajudar a sanar o banco, fez uma gestão pior ainda, elevou o endividamento ao céu, sendo finalmente substituído em 07 de maio último. Dois dias depois, o novo Presidente do Bankia, buscou ajuda do Governo de Rajoy, a princípio o pedido de resgate chegaria, somado os 4,5 bilhões de 2010, aos 13,5 bilhões. Em duas semanas o valor chegou aos 23,5 bilhões.

 

O Bankia, serviu como Pandora, abriu a caixa de doenças e males do sistema bancário espanhol. Os agressivos banqueiros do país pegaram muito dinheiro farto pré-crise, a juros baixíssimos, re-emprestaram no país e no mundo, especulando com os títulos com maior prêmio de risco, além de criar uma ampla bolha imobiliária na Espanha, bem no estilo americano, com muitas hipotecas, as famílias se endividavam para consumir mais, até que em 2010 houve o estouro total da economia espanhola. O setor mais atingindo, aquele que também dá mais emprego, foi a construção civil, abalada pela falência das famílias.

 

A Cadeia dos sistema bancário como um todo, ruiu. Mas a ambição não tem limites, nos recentes leilões de títulos “baratos” do BCE, os bancos espanhóis compareceram com voracidade. Pegaram mais dinheiro, se endividaram mais, e mais uma vez compraram mais títulos com risco mais altos, que se desvalorizaram ainda mais, em particular da própria Espanha. O círculo vicioso se fechou. Os sócios e reais donos da dívida, tanto pública como privada espanhola são em grande parte os bancos alemães (150 bilhões), Franceses (115 Bilhões) e Ingleses (86 Bilhões), agora a UE vai resgatar os bancos, para salvar o calote aos demais banqueiros, não “bondade” na ação da Troika.

 

O histórico acima mostra como chegamos até aqui, agora temos que analisar o que virá pela frente. A primeira diferença, por enquanto, do caso espanhol em relação aos de Irlanda, Portugal e Grécia, é que a intervenção da Troika foi total, estes países hoje, não tem mais autonomia, nem para emitir um cheque, seus títulos são proibidos, seus governos prestam conta rigorosamente à troika. Nenhuma medida é tomada sem anuência de um comitê gestor. A soberania é quase zero. A imposição feita reflete a pouca importância do PIB destes países. Mas a exigência é como se fosse um “exemplo” aos demais.

 

O caso da Espanha é bem mais complexo, trata-se de uma economia de médio porte, com amplos vínculos na Zona do Euro, sua quebra ou uma intervenção ampla, significa a queda geral do Euro, então as soluções são mais particularizadas, mas, pelo que vejo, de curto alcance. A credibilidade não será recuperada, o próprio governo local foi derrotado. Rajoy, líder da Direita espanhola com pouco mais de 6 meses no cargo é extremamente mal avaliado, mesmo com ampla maioria no parlamento, a sociedade o questiona, tem pouca sustentação social. No caso do Bankia, tem que “proteger” seu colega de PP, Rodrigo Rato de uma ampla investigação, proposta pelo PSOE, é mais fonte de desgaste.

 

O Governo da Direita cortou mais 30 bilhões de Euros do Orçamento, agora quer cortar mais 10 bilhões de Saúde e Educação, mas aí vem a contradição de ter que dá dinheiro público aos bancos privados. O dinheiro externo, não resolve a situação do país, aliás, piora. Até a mídia burguesa assim avalia:

“O pacote de socorro de até € 100 bilhões aprovado pela União Europeia e pelo Banco Central Europeu (BCE) para recapitalizar o sistema financeiro da Espanha não resolveu a crise das dívidas e, além disso, fragilizou o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Em seu primeiro pronunciamento, o chefe de governo tentou mascarar a gravidade da situação comemorando “ter evitado uma intervenção” de Bruxelas e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Rajoy admitiu, no entanto, que, apesar da ajuda aos bancos, a crise na Espanha deve piorar. O país permanecerá preso em sua segunda recessão em três anos, e mais espanhóis vão perder seus empregos em um país onde uma em cada quatro pessoas já está desempregada, disse ele.

O premiê vem sendo criticado pela oposição e pela imprensa por sua gestão de crise e deve ter de se explicar ao Parlamento nos próximos dias. O silêncio de Rajoy teve início na tarde de sábado, quando o ministro da Economia, Luis de Guindos, foi destacado para anunciar à imprensa o acordo que garantirá até € 100 bilhões para a recapitalização do sistema financeiro da Espanha, abalado desde o início da crise do mercado imobiliário, em 2008″. (resumo do Estadão, AFP e AP, 11/06/2012)

 

Por mais tente vender a ilusão de que a Espanha não sofrerá intervenção como Portugal, Irlanda e Grécia, as incertezas e exigências da Troika serão maiores, abalando ainda mais a frágil governabilidade espanhola, Rajoy terá que ir ao Parlamento se explicar, pois insistiu desde de dezembro que não precisava de dinheiro da UE, agora teve que fazer o pedido formal, atenuando que a ajuda seria aos bancos, um eufemismo, que é o famoso “me engana, que eu gosto”. Na própria apresentação do pedido de “resgate” a defesa tímida, pois sabem o tamanho do problema que virá, leia que não é piada, as palavras de Rajoy:

“Estou muito satisfeito, e creio que ultrapassamos uma etapa decisiva”, disse. “Se não tivéssemos feito o que fizemos nos últimos cinco meses, o que teria acontecido seria uma intervenção na Espanha.” O premiê também citou os números do pacote em tom de elogio. “Obter uma linha de crédito de € 100 bilhões não foi nada fácil.”

Rajoy assegurou ainda que os juros do pacote de socorro não incidirão sobre o déficit público, já elevado. Em 2011, a Espanha registrou um rombo de 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas governamentais, e precisa reduzir o buraco a 5,3% até o fim de 2012. Tudo em um cenário de alto endividamento dos governos regionais e de desemprego em massa, que chegou a 24,44% no primeiro trimestre.

Como Guindos havia feito no sábado, Rajoy garantiu que o pacote de socorro não representa nenhum tipo de intervenção na gestão econômica da Espanha. Nenhum novo plano de austeridade teria sido acordado. A única exigência, segundo ele, é que as reformas já iniciadas, como a do mercado de trabalho e da previdência, sejam mantidas.

Na entrevista, Rajoy não usou as palavras “socorro” e “resgate” – o que foi interpretado como uma tentativa de demonstrar normalidade. Com esse espírito, Rajoy disse que assistiria ao jogo Espanha e Itália, na Polônia, no que foi duramente criticado. Analistas dizem que, apesar de o pacote evitar uma catástrofe iminente, os bancos do continente continuam a correr sério risco.( Estadão, AFP e AP, grifos meus)

 

É o que diz a frase da oposição governo do PP e aos do PSOE: “La crisis ha terminado, ahora comieza la miseria!”

 

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