Ali, naquela pequena mesa, na cozinha de casa, apenas havia dois lugares “marcados”. Nos olhávamos e muitas vezes apenas o silêncio nos acompanhava. Quase sempre era o corre-corre do dia a dia, de tomar o café apressadamente, para ir à escola, anos depois para chegar à faculdade. Quantas e quantas manhãs, a mesma cena, rápida, fazer o suco, café, tapioca, comer e sair.
As nossas cadeiras e lugares eram sempre os mesmos, a minha por respeito, a dela por ocupar e ninguém podia tomar-lhe o lugar. Vê-la sempre, com muita saúde, ou debilitada, nada mudava nossos lugares e hábitos comuns, muitas vezes as palavras eram ásperas, pela pressa, pelo relógio que insistia em correr.
O meu estresse e de preocupação com as horas, infelizmente passou para ela, que exigia da irmã a mesma urgência do tempo, do trânsito, do horário do Rosário ou da USP.
Sentar no “meu” lugar e não ter a presença dela, é que faz cair a ficha da perda, as pequenas coisas, o vazio, o procurar e não achar. A Felicidade estava só nessas pequenas coisas, nada extraordinário, mas nos pequenos detalhes de vida, de convivência.
Tomar o café sem ouvi-la, vê-la, ou o jantar, em que ficávamos um de frente para o outro, sempre a admirar, na maneira de comer lentamente a noite, o que eu dizia que ela ia saboreando cientificamente cada pedaço de carne, principalmente, que tanto gostava. Depois passava a mão na barriga e repetia: hum, tava tão gostoso. Ainda que fosse apenas para nos agradar.
Aquele lugar já não é o mesmo, celebrar a comida, bem elaborada, ou apenas um café forte, a sua predileção, não tem o mesmo sabor, a mesma harmonia, até dos momentos mais tensos que vivemos. Cada um de nós, seguirá a vida, com nossos limites, defeitos, qualidades e superações, apenas algumas coisas não retornarão e se acostumar com isso, nem sempre é fácil.
Talvez mude de lugar na mesa, ou não.
https://www.youtube.com/watch?v=sSeGSsU9TlY
Ouvir Cartola é de certa forma ouvir meu padastro Emir Pinheiro, o unico e verdadeiro pai que tive. Tenho um ideia deste vazio de que falas Arnóbio.
Continues a escrever, eu faço isso e me redescubro a cada texto. Sei bem que uma filha é a continuidade de nossa própria existência.
Um abraço amigo.
Mais que a morte, perda ou falta, você me fez pensar na vida e repensar a vida e a grandeza do amor.
Beijo e abraços para você e sua família, Arnóbio.
É triste, doloroso, Arnóbio, já passei por istgo algumas vezes e te entendo perfeitamente. Mas com o tedmpo acho que saudade é um sentimento bom e acaba preenchendo o vazio. Beijos Vera Pereira
Nobinho não não tive coragem ainde de falar com vc pois sinto a sua dor…. e difícil de entender o que a vida nos prega mas só mesmo Deus misericordioso pra nos fazer levantar e seguir em frente. Abraços meu querido.