No meio desta tempestade toda, de uma dura campanha eleitoral que ameaça o Brasil de voltar às trevas, combinado com uma doença grave de meu amigo e cunhado (esposo de minha irmã), encontrei um espaço para viajar nas ideias e sonhos, pois fui ler um pequeno livro com palestras do grande mestre, Harold Bloom, o professor e crítico literário, que sempre enriquece meus poucos conhecimentos, abre minha mente para tantas possibilidades e viagens através da literatura mundial.
Minha identidade com Harold Bloom vem de seus estudos sobre Shakespeare em especial e da literatura ocidental em geral. Os seus livros acabaram servindo de fonte constante de consultas e de busca por algo mais sobre os autores analisado ou sobre suas obras. O rigor na análise e a profundidade da pesquisa junto à imensa cultura dele, além de um modo peculiar de analisar obra/escritor me fascina, pois dar uma maior amplitude ao que já li, ainda me alerta para detalhes não percebidos.
Suas obras monumentais são “O Cânone Ocidental”, um catálogo com os 26 maiores escritores da humanidade (do ponto de vista ocidental), “Shakespeare – A Invenção do Humano” e “Hamlet – Poema Ilimitado”, são dois livros sobre Shakespeare, o primeiro analisando todos os livros dele, em especial o Hamlet, mas depois o segundo veio para complementar o panorama da maior obra literária do ocidente, segundo Bloom, em que estou de acordo.
Em 2001, ele lançou o livro “Gênio – Um Mosaico de Cem Mentes Exemplares e Criativas”, em que amplia a lista dos 26 do Cânone, incluindo escritores orientais, o Alcorão e a Bíblia, além de Machado de Assis, a quem considera o maior escritor brasileiro do século XIX, acrescentaria, de todos os tempos. Bloom aprendeu a ler em português para melhor conhecer a obra de Camões e Fernando Pessoa, depois segundo ele, leu Eça de Queirós, José Saramago, Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis.
As várias indicações literárias de Harold Bloom, o perfil de autores e de grandes obras, não apenas nos influência, como também nos inventiva a ler, numa época em que pouco se valoriza a leitura, menos ainda das obras fundamentais da humanidade, pois o conhecimento total e amplo parece simples de ser adquirido apenas acessando o Google. É um debate extremamente complicado e complexo, sobre o que ler, mas como o próprio Bloom define, que “a leitura é um gesto particular” e que a sua ”função como crítica literária é oferecer um conhecimento menos teórico do que prático da literatura” cujo “objetivo é levar as pessoas a ler”.
Muitos o desprezam por ser um crítico “elitista” ou por suas polêmicas com marxistas e feministas, acabam caracterizando incorretamente como sendo apenas um liberal de direita, mas se esquecem de que é o mesmo professor de Yale que se recusou a prestar homenagem ao George Bush, com sua costumeira precisão: “O rei Bush era um dos homenageados em Yale.Preferi não estar presente. Não me arrependo”. Pois “George Bush II representa a imbecilidade mais completa que se vive nos Estados Unidos e que ultrapassa a minha compreensão. Estamos na época de Mark Twain, chamada “The Guilded Age”, a era dos barões bandidos. Toda esta Administração, o Presidente, o Vice-presidente, o Secretário de Defesa, o Secretário do Tesouro, são grandes senhores do petróleo que estão a ter lucros fabulosos”.
São facetas de um grande mestre, a quem admiro e leio constantemente, independente de seu pendor ideológico.
1 thought on “1163: Harold Bloom e o Prazer da Leitura.”