Arnobio Rocha Reflexões Alienação para Sobreviver ao Mundo

1683: Alienação para Sobreviver ao Mundo


 

Imagem: Melancholy (Melancolia), de Edvard Munch (1891)

“Se queres, amontoa em tua própria casa
riquezas mil e vive com a magnificência
de um rei; mas, se isso não te traz contentamento,
eu não daria nem a sombra da fumaça
por todo o resto, pois não há para os mortais
nada que seja comparável ao prazer”
(Antígona – Sófocles)

Dizer o que não é comum, normal e corriqueiro, ou transformar o corriqueiro, o normal em algo incomum, é o maior desafio ao se escrever, ou ao falar, contar uma história, enfim, em qualquer lugar.

As palavras saltam dos dedos, rememorando algo assim, nem sempre “engenho e arte”, ou as musas do Tejo, do Hélicon, inspiram.

As armas e barões, tanto já cantadas, as enormes histórias, que nós teimamos em não ler, conhecer, o que nos faz repetir erros, até mesmo sobre elas, pelas orelhas de livros  não lidos, as citações errôneas, sempre assustam ao colar uma delas aqui, ou acolá, não pela vaidade, apenas rigor e um desejo de não errar, às vezes a tentação de mostrar algo que não tens, vira-se contra si.

Ora, algumas vezes disse aqui que Marx era um bruxo, sua enorme capacidade de leitura e de produção literária fez dele um colecionador de citações, algumas vezes ele não punha aspas, ou as traduções não as incluía, por essa tradição de não ler o que lia, ele, Marx, virou “dono” de frases famosas, muitas delas de Shakespeare, de quem ele era profundo conhecedor.

Marx tinha um “google” próprio, quem não leu o Capital, por pensar que é complexo do ponto de vista da economia política, vale a leitura pela quantidade de referências literárias, para entender como é importante conhecer a literatura, as obras fundamentais da humanidade, pois sem elas, nenhuma teoria política e/ou econômica se sustentariam.

A fluência de um texto complexo, de um tema árido, só é possível através do uso de outras artes, para ganhar o leitor pelo desejo, pela curiosidade, despertar seu interesse por um conhecimento mais amplo, que una Dante ao Pink Floyd, Homero ao Led Zeppelin, ou simplesmente uso de uma fábula que explica um conceito abstrato de filosofia, matemática.

Esse homem/mulher total, aquele do Fausto, ou de Porcia, é o que teremos que buscar, que pode ir além das possibilidades e probabilidades que a alienação lhe reserva, que lhe consome,

A liberdade reside no conhecimento, no que consegue ver para além do mundo cinza, concreto, que não sabe distinguir uma mamadeira de piroca, de uma pandemia.

O horror de hoje é um dívida pelo ontem, e a dor do que virá amanhã.

Ainda daria tempo. Teremos coragem de ir atrás?

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