Arnobio Rocha Diário de Redenção Roubaram o teu cheiro de mim!

2458: Roubaram o teu cheiro de mim!


Traduzir-se uma parte
Na outra parte
Que é uma questão
De vida ou morte

Uma parte de mim
É multidão
Outra parte estranheza
E solidão
(Traduzir-se – Ferreira Gullar)

É que tem dia que a saudade aperta e parece que vai sufocar, assim como a revolta aumenta, de como te roubaram de nós, deixando um vazio sem fim, que apenas de teimosos seguimos em frente sem que na maioria das vezes sabe-se para onde e muito menos a razão de seguir.

A distância do tempo em que você se foi cresce e traz algumas coisas desesperadoras, como esquecer a sua voz, seu jeito de falar, o que machuca tanto, a sensação de que até isso a memória falha, o que nos abate, machucando mais profundo no meu ser.

Ademais, esses dias tento sentir seu cheirinho, tão próprio e terno, mas até isso sinto que me ROUBARAM, que não pode ser algo tão injusto e tão duro, pois nem o seu cheiro consigo divisar no meu cérebro, uma contrainformação cruel de esquecimento, para que sinta mais dor e saudade.

Fui ao seu quarto, ainda todo montado, como se você fosse voltar para nós e me abraçar de novo, mesmo no sonho, já não lhe abraço, ouço, sinto seu cheiro, procuro numa camisa, num vestido, para que de alguma forma possa te sentir e reavivar as minhas lembranças sobre ti, mas não vem.

Nada, nada mesmo pode ser tão cruel e sem razão, lógica, do que um dia um pai, uma mãe, não tenham seus filhos. É bonito proclamar que valeu aquele tempo juntos, mas nada compensa o tempo presente, a amargura e o sofrer como derrota para sempre, desconfio que para além de nossas mortes, pois tantas vezes penso que ela se deu em vida, não é mais vida, é outra coisa indecifrável.

Saudades, todos os dias.

Uma parte de mimÉ todo mundoOutra parte é ninguémFundo sem fundo

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