Arnobio Rocha Reflexões A Carteirada como método.

1970: A Carteirada como método.


Um péssimo costume que diz muito sobre a sociedade.

“E é porque meu pai tinha um parente
Que era amigo de um soldado
Que morava em frente à casa de um vereador”
(O amor que antes ser já era – Falcão)

As “carteiradas” sempre existiram na sociedade brasileira, em que ter um nome, sobrenome, ou grau de parentesco, é uma oportunidade perfeita para o famoso “jeitinho brasileiro” funcionar. Essa coisa é uma constante de cima à baixo, passando por todas as camadas sociais, é uma exposição de poder (qualquer um que seja) para se “dar bem”, ser mais esperto do que o outro, e feito sem nenhum pudor.

Dar “carteirada” é uma expressão de força, de um poder (irreal/real) e uma demonstração de status: “Você sabe com que está falando”. Na maioria das vezes nem faço ideia mesmo, pois até ex-BBBs usam dessa máxima: “sou em ex-BBB da edição 5,10”. Vai que cola, entra numa balada, come de graça, bebe, namora/transa, recebe convite, tira selfie, um pequeno negócio, uma vantagem qualquer.

Há outras “carteiradas” bem patéticas, mas mais sofisticadas, uma soberba intelectual e/ou acadêmica em que, na aparência, parece algo superior, entretanto, na essência, é a mesma carteirada de um ex-BBB, ou ex-jogador, uma ex-bailarina do Faustão, um ex-ator “famoso, quem?”.

É a carteirada Lattes, a figura, insegura ou vaidosa, as duas coisas talvez, ao ser introduzida num ambiente, num grupo de whatsapp, por exemplo, esse meio de de alta cultura inútil, mas fundamental para o meio de campo dos negócios, faz questão de apresentar suas credenciais da plataforma acadêmica, algumas vez com link e tudo, não riam, é pura ficção, você nunca se depararam com isso na vida, certo?

Não tenho muita certeza se em outras culturas, povos, de que esse comportamento profundamente baixo, de baixo valor civilizatório, democrático, se faz presente com tanta frequência e disseminado pela sociedade, como no Brasil. O que explica, aqui, o mau funcionamento das instituições, da política, da democracia, dos valores humanos e de uma sociedade plural. O pertencimento se daria apenas por sua capacidade influência, de conhecer ou ser amigo, parente de alguém que abre as portas da “felicidade”.

Essa reprodução do cotidiano, de um péssimo hábito, um vício, óbvio que ganhou dimensão na internet, no mundo virtual, dos “youtubers”, “influencers”, “personal styles”, ou outras denominações, um “parça” de um jogador “famoso” e rico. Isso se reproduz nos grupos fechados e caros das redes sociais, quem é quem, quem pode e quem não pode entrar, quem entra “ostenta” ser, como sinônimo de que é parte de uma CASTA.

Pouco ou nada, avançaremos com essa cultura nada republicana, a mais elementar e burguesa, uma meritocracia, favores, por proximidade, não por valores e contribuições que possam mudar uma realidade. Daí se admiram que um Guru Astrólogo ou Podólogo ganhem projeção e até feriado no seu dia final, é apenas o reflexo, o resultado dessa vida de “carteiradas”.

Sigamos, ou não.

PS: Meu Lattes deve ter 2 ou 3 linhas: Arnobio Lopes Rocha – Cearense, eventualmente advogado e técnico em Telecomunicações.

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