Arnobio Rocha Literatura Voltando ao mundo dos Livros

1904: Voltando ao mundo dos Livros


 

O mundo mágico dos livros.

En la noche, sigo encendiendo sueños
Para limpiar con el humo sagrado cada recuerdo
(Hasta la Raiz – Natalia Lafourcade)

É certo que tive acesso muito cedo, jovem, aos clássicos da literatura mundial, de política, economia e filosofia.

Repensando hoje, não sei se tinha maturidade para ter encarado algumas leituras, foi muito mais pelo desafio intelectual (vaidade? Talvez), impulso juvenil e prazer em ler, do que realmente uma preparação mais sistemática, se é que existe, apenas fui lendo e lendo.

A compreensão de muitos desses clássicos, só vem depois, quando o cérebro fez as várias conexões necessárias para o que fora lido. Por sorte, a minha memória (afetiva ou cognitiva) me ajuda a ter em mente boa parte desses livros espetaculares, pois na época, não havia “google”, então, o fichamento de livros sempre foi meu guia e fonte de consulta, uma parte desses apontamentos viraram posts desse blog.

A intimidade com Shakespeare, por exemplo,  tornou-se mais intensa com as leituras de Harold Bloom, e com suas análises, obra a obra, foram fundamentais para que lesse toda a obra do bardo inglês, e depois relesse, por muitos anos, algumas delas, pois tinha que confrontar as minhas perspectivas com as do grande professor de Yale.

A mitologia, a teogonia, a cosmogonia e a escatologia do mundo grego e romano, com mais relevo no primeiro, tive como guia Junito de Sousa Brandão, antes de o conhecer numa palestra em São Paulo, já havia lido Homero, Virgilio, Sófocles, Eurípedes, Ésquilo, Ovídio, entretanto, ao ouvir aquele professor, aos 75 anos, adoentado, falar por duas horas e meia, fiquei absolutamente enfeitiçado. Li sua extraordinária obra, seus estudos e traduções, uma grande luminosidade para mim sobre o mundo greco-romano.

Marx e o Capital, foram decodificados para mim pelo meu mestre, José Antônio Martins, com suas análises de conjuntura que ele dava em suas palestras no antigo Núcleo de Educação Popular – 13 de maio, depois no boletim “Crítica da Economia“. Li e fichei, durantes os meses iniciais de 1993. Para minha alegria, Martins e eu, montamos um grupo de estudos do Capital, em que, ao fim e ao cabo, sobramos nós dois, quantas lições, naquelas sexta-feiras do ano de 1995.

Meu trabalho de conclusão do curso de Direito e meu livro sobre a Crise de 2008, têm muito do que Martins me ensinou, de como entender a estrutura do Capital, a lógica interna, as formas de leitura e, principalmente, como trazer as lições de Marx para o momento presente, seus reflexos na Economia, Política, Filosofia e no Direito, a luta de classes como fio condutor de todos os ramos do saber e da história.

A intimidade com os clássicos não é mero exercício de vaidade pessoal, mas é forma de entender o mundo que nos cerca, não nos limitando ao que fazemos profissionalmente. A lógica, filosofia e método, foram essenciais para minha longa carreira no mundo das telecomunicações, para soluções de problemas complexos de software, da visão ampla de um sistema, não importando a linguagem dos códigos ali escritos.

Óbvio que para o Direito, a leitura, o conhecimento, são as ferramentas para ter sentido ao se descrever uma realidade fática contada por um cliente, e, claro, para tentar entender o cipoal gigante de normas e códigos dos sistema jurídico.

Entretanto, a literatura, é primordialmente prazer, tesão, muito além do aspecto instrumental, ou que se use como ferramenta nos mais variados campos do conhecimento, ler é sonhar, é viajar e conhecer os aspectos mais íntimos da humanidade. Escrever é o seu par, nem sempre se une os dois, pois é muito mais fácil ler do que escrever.

Aqui, no blog, apenas tentamos. Voltaremos aos livros.

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