1561: Fé?


A dimensão de uma fé, de um sentimento e de dor.

“O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão”
(Drão – Gilberto Gil)

A fé é nenhuma, na profunda ausência de qualquer vestígio, sem, no entanto, desdenhar daqueles que tanta fé têm, professam e guardam, seus símbolos, dogmas e cultos. A questão não é lógica, ou simplesmente racional, apenas as pancadas duras da vida ensinam a não ter apego ou fuga, que justifique e/ou sirva para escapar do inexorável da existência, o seu fim.

Os últimos dias foram de intensa dor, a realidade material da sobrevivência cobra um preço muito elevado, as urgências, não são as minhas, e nem sempre damos conta do quanto precisamos nos destruir pelo vil metal, superar os males que nos afligem e seguir. Não há escolhas nessa luta, só fazer, suportar e sem reclamar, o silêncio é a regra da submissão.

O cruzamento desses dois sentimentos, dor de saudade e de desolamento com a sobrevivência, abriu um buraco no casco, o velho barca ameaça afundar, água chegou ao convés, nem a banda toca mais no Titanic existencial, falta pouco para cobrir o pescoço.

A mensagem do terço com a imagem da Lê, é obra de uma avó que sofre duplamente, pelo filho e pela neta que se foi. O gesto comove, é sua expressão de fé, no que piamente acredita, de alguma forma, tenta confortar uma dor violenta, mesmo daquele que é indiferente a qualquer fé. A beleza e poesia está na intenção e sentido de apaziguar um coração partido.

Não obstante (tão Lelê essa palavra), a dimensão da condição vivida, endureceu o que sobrou do coração, a vida material fala mais alto, impõe uma crueza para viver, em que nada mais fará a diferença.

É seguir.

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