Arnobio Rocha Reflexões As Dores do Medo das Trevas

1462: As Dores do Medo das Trevas


A sombra e a escuridão de uma estrada cada vez mais estreita.

“Amanhã, e amanhã, e amanhã
Arrastam-se nesse passo miúdo dia após dia
Para a última sílaba do tempo narrado;
A nós tolos, todos esses ontens iluminaram
O caminho para o pó da morte. Apaga, apaga, lume passageiro” (Macbeth – WS)

O que a vida reserva a cada um de nós? Prazeres, alegrias, dores, desesperos. Qual o metron que não se pode ultrapassar? A imensa maioria do planeta vive dos aflitos e das incertezas sobre o que irá comer hoje ou amanhã, de como irá sobreviver ou aguentar o pesado fardo da existência. Ainda que acredite em algo que os faça seguir, a perspectiva diária teima em desmentir qualquer fé ou credo.

As reflexões doloridas de um fim de sexta, acalmadas pelo balsamo que vem das músicas que ouvimos, nesses momentos em que a sombra e a escuridão dominam o cenário. A semana corrida, vivida intensamente, vencida dia a dia, superando os percalços desse ambiente sufocante que se transformou o Brasil, avançando perigosamente para o abismo e o caos.

O corte entre os dramas e aflições pessoais e as questões gerais, numa luta de vida e morte, sem que possamos dominar o destino, o nosso e dos demais, nem mesmo olhar com algum otimismo de que haverá luzes à frente. Assim seguimos essa dura luta interna, sem que nos paralise, mas sem que impulsione e lutemos com mais força, parece que nada se ajusta, não enxergar o Norte.

Os limites pessoais, as demandas íntimas, sobrecarregam, puxando para baixo o olhar coletivo, a doação para que se possa fazer algo mais, ousar mudar o estado de coisas. A dura realidade de emprego, reprodução essencial do corpo, aprisiona a mente, os sonhos não são sonhados, pois o cérebro vive cansado, incapaz de viajar, a criatividade e capacidade diminuem.

Essa terrível dualidade, pensar longe em contradição de executar pouco, tornam o viver um drama, uma dor que não se mede, mas se sente. De algum lugar, uma pequena lamparina se acende e emite uma fraca luz, um aviso de que é possível continuar, que uma mudança virar, uma nova primavera há de surgir, superando esse longo e tenebroso inverno.

Assim, ouvimos a música distante, incidental, e não dá tempo para nenhuma lágrima a mais, reviver, renascer, lutar, em breve sorrir.

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